sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Outro Lado do Cativar


     Você veio me dizer que eu te cativei. Como? Nunca trocamos uma vírgula ou algumas reticências que fossem. Meus olhos nunca procuraram os teus nem meu sorriso se abriu pra ti. Como então posso tê-la cativado?
     Será que no outono quando as folhas secas caem, se alguém se apaixonar por uma delas, a árvore será automaticamente sentenciada culpada? Logicamente que não. A queda das folhas é um processo natural e acontece independente de qualquer transeunte que por ventura possa passar sob sua sombra. Ou você acha que a folha se desprendeu do galho só por que viu você? É muita petulância de sua parte pensar assim.
     Quando você me viu a primeira vez eu fazia o quê? Conversava com meus amigos? Lia um livro? Ou estava no ponto de ônibus? Você acha que o fato de estarmos respirando o mesmo ar já é motivo suficiente para se afeiçoar a mim? Ou seu coração está muito desocupado ou nem sei o quê.
      Eu não sou responsável se você pensa que eu te cativei. Eu não fiz nada, nem me dirigi à sua pessoa. Você que criou mil e uma ilusões a meu respeito e se deixou cativar por elas. Agora fica aí exigindo de mim uma correspondência.
      Sabe, acho melhor você destruir essa imagem que criou ao meu respeito. Eu não tenho pretensão nenhuma de corresponder ao seu afeto, por mais bonito e nobre que ele seja. E seja feliz com alguém que realmente se esforce para cativá-la.


Texto sugerido pelo ilustre @lucasmarreiros.

Um comentário:

Lucas Marreiros disse...

Eu adorei o texto. Muito bom mesmo deixar claro o outro lado do cativar.