quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Corvos e Prostitutas



      Estou cada vez mais convencida de que os onze anos passados no colégio têm sido de pouquíssima serventia para a minha vida acadêmica. Não demorei muito a perceber isto. Bastou assistir a primeira aula, às sete horas da manhã.
      Logo de imediato, tão logo pus o pé numa universidade federal, descobri que nunca soube ler, apenas decodificava palavras. Também descobri que minhas paráfrases são medíocres e minhas interpretações... Deixa quieto. As análises... Meu santinho! Nunca fui cartesiana, metódica. Sou, inversamente, muito intuitiva e passional. A propósito, só sei o que os meus textos querem dizer, porque são criações próprias. Posto isto, se difícil me é saber o que se passa em minha mente durante a elaboração de um texto, imagine só deduzir as divagações de um gênio como Shakespeare. Sem contar que fomos lançados nos braços de Platão, Aristóteles e Homero nas primeiras cadeiras do curso. Oh, presente de grego! Quanto a Saussure e Chomsky, prefiro me abster de fazer quaisquer comentários para não incorrer em pré-conceito linguístico. Vale salientar, todavia, que ainda não fomos jogados aos corvos da sintaxe, embora já tenhamos vislumbrado o vulto de E. A. Poe.
      Às vezes me questiono se reaprenderei a ler de modo razoavelmente satisfatório um dia (de preferência antes de chegar ao TCC) a fim de desenvolver uma visão crítica e conseguir análises textuais decentes (ou prostitutas) ou se esta crônica está fadada a ser uma morte enunciada, visto que as notas do primeiro período ainda não foram lançadas no sistema.
      Fico, ainda, com a dúvida: para quê serviram-me os onze anos de escola?