sábado, 18 de agosto de 2012

Desaguar



     
 Os beijos se foram. Não, os beijos ficaram. Mas deveriam ter ido, assim como você partiu. Ou deveria ter partido no exato instante em que terminamos.
      Terminamos? Então por que insisto em lembrar-te? Lembrar... Como lembro. Esquecerei um dia? Por certo, mas ainda não.
      Penso em você com carinho. Às vezes, com raiva. A contradição do término. Mas toda contradição se dissipa. Disssipa?
      A mente sabe o que quer. O coração, o que deseja. Eu, embebida n’ambos, entendo o que sinto. Se sinto, é porque senti três vezes mais algum dia. Mas não quero sentir mais. Não por você.
      Esquecê-lo tento. Quanto mais tento, lembro.
      O que me resta é escrever. Desaguar por estas linhas sentimentos evidentes ou marginais para que saiam de mim. Reconheço-os, mas prefiro que partam.
      Pretendo terminar a faxina em breve. Deixar o quarto arrumado e limpo para o novo inquilino. Costurar mais alguns retalhos à colcha para aquecer melhor o Amor, que virá.
      Leve a dor desta saudade com você. Quero ficar apenas com as lembranças boas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Semente


foto Ronai Rocha

A floresta me suga.
Eu murcho sem sumo.
Não me deixe criar raízes aqui, por favor.
Eu quero ser pássaro, quero ser água.
Veja as cordilheiras, os vales, os jardins!
Acorde desta floresta escura.
As árvores são lindas
Mas as folhas secas quebrando me angustiam.
Quero simplesmente fluir.
Encontrar novos céus, novas nascentes.
Ser flor.
Quebrai, pois, tua casca dura!
A semente ouviu.
Remexeu-se nos braços da Mãe-terra.