Meu coração sofre de um mal crônico. Uma tristeza que volta e meia ressurge de minhas entranhas. Um sentimento de vazio imune a multidões. Tanto faz se passo pelo epicentro do tumulto ou se me esgueirando pelas sombras, se saio empacotada ou despida, ninguém o vê.
Será que o meu coração é fruto de minha mente solitária assim como os romances que fantasio? Será que existe uma máquina em seu lugar que faz o mesmo barulho que o músculo? Eu o sinto doer, comprimido no peito, e, em raras ocasiões, acometido por uma alegria ínfima. Então por que as pessoas não se apercebem de sua existência?
Às vezes queria ser mais medíocre, mais defeituosa. Minhas qualidades nunca tiveram utilidade nenhuma. Só fazem com que as pessoas tenham que enumerá-las antes de pisar em mim e me jogar para o lado.
Queria que as pessoas ao menos vissem meu coração antes de ignorá-lo. Acho que vou fazer um corte no peito e andar na rua com o músculo sangrando à mostra. Assim todos verão que eu tenho um coração.