terça-feira, 28 de junho de 2011

Mal Crônico


         Meu coração sofre de um mal crônico. Uma tristeza que volta e meia ressurge de minhas entranhas. Um sentimento de vazio imune a multidões. Tanto faz se passo pelo epicentro do tumulto ou se me esgueirando pelas sombras, se saio empacotada ou despida, ninguém o vê.
         Será que o meu coração é fruto de minha mente solitária assim como os romances que fantasio? Será que existe uma máquina em seu lugar que faz o mesmo barulho que o músculo? Eu o sinto doer, comprimido no peito, e, em raras ocasiões, acometido por uma alegria ínfima. Então por que as pessoas não se apercebem de sua existência?
         Às vezes queria ser mais medíocre, mais defeituosa. Minhas qualidades nunca tiveram utilidade nenhuma. Só fazem com que as pessoas tenham que enumerá-las antes de pisar em mim e me jogar para o lado.
         Queria que as pessoas ao menos vissem meu coração antes de ignorá-lo. Acho que vou fazer um corte no peito e andar na rua com o músculo sangrando à mostra. Assim todos verão que eu tenho um coração.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Asas de Cera

Meu coração adora se apaixonar por amores platônicos.
"Pra quê?" - pergunto-lhe.
"Para se sentir vivo. Ao menos isso" - ele responde.
Triste sina de uma velha cantiga.
Um coração invisível, um sofrimento latente.
Uma injustiça: meu coração vê o seu.
Mas onde está a veracidade da recíproca?
Vagueio pelas nuvens.
Transformo “ses” em atos concretos.
Somente em minha mente. Esta mentirosa.
Meu coração sonhador. Este gigante que não percebe que as asas são de cera.
“O que fazemos?” – suplico dele.
“Sonhamos. É o que podemos fazer enquanto a realidade não nos insere em seu contexto” – declara num transbordar de esperança.
Então vamos sonhar sonhos muito coloridos.
E rezar para que a realidade venha ao menos em preto e branco.
Talvez em cores primárias. Na melhor das hipóteses.
Quero já. Quero agora. Mas nenhuma novidade surge no horizonte.
E vou vivendo com esta amargura ressonante.
Rezando para que alguma história se inicie.
Afinal,o final feliz só acontecerá mediante um começo.
E aguardo.
E sonho.
E mudo.
E me aproximo do sol.
E caio.
E reconstruo minhas asas de cera.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

(Dorinha) Um Gelado Sob o Luar

Este texto é uma continuação do post anterior: "Joguetes do Desejo" (leia aqui) e recomendo que, para melhor compreensão, você leia o primeiro conto da "saga" antes de prosseguir com a leitura deste, caso não tenha lido ainda. Espero que goste. E um obrigada a meu leitor-crítico, que vem me ajudando bastante com a criação dos contos da Dorinha. rs.... Kissus! =)

sábado, 18 de junho de 2011

Joguetes do Desejo

Recomendação: Se você tem algum problema cardíaco ou está solitário há muito tempo, não siga adiante com a leitura desse texto. Agora se estiver tudo okay ou você se responsabilizar pelas consequências, vamos em frente. Espero que goste. =) 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Bambu Verde

         Imagine um bambu verde. Ele se curva para frente e para trás ao sabor do vento, mas não se quebra. Flexível, cede quando é preciso. A amizade verdadeira é assim. O vento seria as verdades que lançamos sobre nossos amigos e nós o bambu.
         Cada pessoa esconde algo do mundo (ou grande parte dele), seja por vergonha ou medo. Eu tenho uma coisa que guardo para mim. Garanto que você também. Mas se a amizade for verdadeira, a revelação do segredo só a fortalecerá.
         Eu confio muito nas pessoas. Algumas logo de cara. Porém, tem uma coisa – uma só – que eu demoro a partilhar, pode ser quem for. Talvez por medo de me sentir diminuída ou que a pessoa me trate como uma vítima da vida. É uma coisa física da qual não posso me desfazer. Talvez numa próxima vida, se ela existir. E, se você for meu amigo de fato, vai saber o que é um dia, talvez até já saiba.
         Voltando ao assunto, a amizade verdadeira, baseada no afeto sincero e no respeito mútuo, é extremamente resistente. E, assim como o bambu verde, é a sabedoria em ceder nos momentos em que o vento bate (compreender e respeitar as divergências) que lhe confere esta força. Então não vai ser uma coisa ou outra que vai destruí-la, precisa ser um tufão para consegui-lo.
         Eu estou aberta para os segredos. Sou um confessionário ambulante. E, se permitir, eu quero que seja um dos meus confidentes oficiais também.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Girassol




















Girassol.
Gira o sol.
O sol gira.
Só gira.

O mundo gira
E eu fico tonto sem você.
Eu não te conheço.
Talvez conheça.
Mas ainda não sei se é você.

Talvez eu seja o girassol
E esteja girando
Em busca de você.

Quem sabe você seja
O girassol na minha frente.
Volta sua face pra mim?
Finge que eu sou o sol
E vem ser você
O meu sol.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Relance

Oi, gente! O texto a seguir surgiu de uma ideia de minha amiga Gi (visite o blog dela), que eu tomei emprestada e dei uma romanceada rsss. Espero que gostem. Beijinhos!

Relance
         Enquanto eu fazia minhas coisas – ali no meu canto – assim tão tranquila, tão agitada, tão concentrada, eu o fitava. Você me devolvia o olhar assim de relance, como que contendo o próprio impulso de buscar os meus olhos. E quando percebi, morri do coração por um átimo, talvez uma fração de segundo. Nesses momentos o tempo parece durar uma eternidade.
         Parece ser esse o ofício do amor: causar-me uma intensamente leve taquicardia. Meu pobre coração descompassado debatia-se dentro de minha caixa torácica enlouquecido, tentando sair junto com alguns sons balbuciados por mim, minha voz mais fina e frágil que o normal.
         O mundo girava lá fora. A escola mantinha seu ritmo normal enquanto em mim parecia que alguém havia apertado o botão avançar. Você vigiava a sala vizinha encostado no batente. Alguma coisa interessante por lá? Penso que não. Você me olhava profundamente, mesmo quando tentava disfarçar. Despistava, explicava uma questão qualquer a algum colega meu de sala, enquanto eu esquecia as respostas já velhas conhecidas minhas. E me olhava com aquele olhar nada vacilante. Discreto, direto, percebendo detalhes em meu olhar translúcido.
         Nenhum vacilo meu passava despercebido por seus olhos felinos, nenhum movimento, nenhuma inspiração ou expiração que brotava de meu peito discretamente arfante. Tudo era registrado fotograficamente por eles.
         Você não me deixava em paz. Parecia estar se divertindo com minha inquietude, minhas bochechas levemente rosadas por um alegre acanhamento, minhas mãos trêmulas que se esforçavam sobremaneira para escrever as medíocres respostas que me vinham à mente.
         Divirta-se com minhas tremulações. Eu deixo. Mas um dia – quem sabe não muito distante – eu o faça se sentir assim também. E eu sentirei uma alegria pseudo-arrogante em deixá-lo com a face inteiramente rubra para, logo em seguida, beijá-lo.

domingo, 12 de junho de 2011

Viva-voz

         “Alô?”
         Oi. Tudo bem? Eu liguei para conversar banalidades. Eu não quero dar meus créditos de bandeja para a minha operadora. Eu só queria desabafar com alguém, dizer que estou com saudades suas, qualquer coisa assim. Eu não tenho um pretexto decente para te ligar. Talvez esteja precisando falar sobre alguma falta ou excesso dentro de mim. Numa ideia mais paradoxal: algum excesso de falta. Demasiada escassez de amor, de otimismo, de equilíbrio. Quero um chocolate, de preferência o que fica ao redor da sua boca quando come o doce com as mãos. Quero um abraço, de preferência aquele seu de conchinha. Eu não posso dizer que te amo, mas talvez eu diga. Só pra ver sua reação. Quero saber que desculpa vai inventar para pular fora. E eu? Que argumento usarei para desmentir o já dito para que continuemos amigos? Acho melhor eu desligar. Já falei demais coisas que não ia dizer. Talvez um dia eu te ligue de novo. Talvez decore seu número e queira ligar para compartilhar minhas ideias desconexas. Foi bom ouvir a sua voz. Até mais.
         [Chamada encerrada].

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pensamentos Noturnos

Como você pode querer me conhecer a fundo se nem eu cataloguei todos os hectares de minha alma? Parece que a cada dia minha alma se expande mais e a autodescoberta perdura. 
Pedindo emprestada uma frase: "Tenho uma única frente, mas muitos versos". Não sou falsa. O cristal tem muitos prismas e cada um brilha a seu tempo, dependendo de qual é atingido pelos raios solares. Eu tenho muitas Saras dentro de mim e é o conjunto delas que forma minha personalidade.
Por vezes escolho o preto ao abrir meu guardarroupa, em outras quero um rosa néon bem chamativo, ou até um decote que ressalte meu busto. Depende do meu estado de espírito. Se você me oferecer um chocolate ou um abraço, pode ter certeza que não vou recusar, a menos que seja um caso muito raro de alguma doença infecto-contagiosa. 
Às vezes o amor me faz alimentar novas esperanças e meu olhar brilha. Já no instante seguinte ele me faz lembrar de frustrações que insistem em perdurar e o sabor amargo emerge até a minha garganta, então destilo palavras ríspidas ou depressivas. É difícil compreender, eu ainda não o consegui. Tem dias que sonho com as alegrias que este sentimento poderia me dar, e em outros fico remoendo os amores que não se materializaram em forma de beijos e abraços e sucumbo à amargura da "não-correspondência".
Eu tenho o péssimo hábito de ser translúcida. E eu sei que às vezes sou muito chata em meus momentos melancólicos. E também sou um porre quando encho o ouvido dos meus confidentes com minhas novas paixões. Eles chegam a ficar em dúvida se se alegram por eu estar transbordando de esperança ou se ficam temerosos que eu me machuque lá na frente. Alguns, os mais íntimos e sinceros, vão logo dizendo: "Não crie muitas expectativas", "Vá com calma" e toda a sorte de equivalentes.
Eu pareço séria com minhas sobrancelhas retas e, frequentemente, a boca fechada, mas se você me conhecer bem (até onde eu já alcancei), vai saber que fico vermelha facilmente e rio de vergonha. Não sou nenhuma escritora-intelectual-carrancuda. Sou doce, falo muita besteira, e também sou tímida. Você só precisa me fazer confiar em você para que eu lhe mostre esse lado. Para isso não é exigido muito: apenas ter a mente e o coração abertos.
Se você quiser, pode vir comigo nessa minha descoberta de mim mesma. Você topa? Então vamos!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Abra-se: Permita-se Conhecer e Encantar-se


         Hoje é um ótimo dia para declarar amor. Motivo não há para esperar o amanhã. O futuro é incerto. Amanhã alguém pode já ter conquistado o seu objeto de afeição. Não se iluda com o ditado. Quem só espera nunca alcança. A vida requer atitudes, muito embora algumas pausas no caminho possam configurar como sabedoria. Mas a acomodação de modo algum pode ser confundida com esperança (eu espero pelo dia que o amor vai cair do céu).
         Existem muitos corações solitários. Eles só esperam que um amor despido de medo se declare para se entregarem. Trata-se de corações deveras maltratados por paixões inescrupulosas que não estão dispostos a esperar até você encher-se de coragem. Eles nem desconfiam da existência deste amor que lhe causa alguma espécie de taquicardia leve. E são muitas as feridas e hematomas que eles carregam encobertos por um olhar de esperança vívida. Então, se alguém chega lhes prometendo amor sincero, eles logo aceitam, ansiando pela cura. Não raro eles quebram a cara, têm o coração esmigalhado, mas se não tomarem o remédio, jamais saberão que é amargo e pior: que não possui efeito curativo. Eles se propõem a ser cobaias em relacionamentos deturpados almejando não saírem pior do que entraram. O que não acontece.
         Portanto, declare-se. O risco de receber um sonoro “não” é real. E alguns ainda não aprenderam a lidar com negativas, comportamento que vem se arrastando desde a tenra infância. Já está na hora de crescer. Amadurecer. Portanto, abra-se e despeça-se do medo.
         Caso o coração escolhido não se mostre aberto ao seu amor, não desanime. Mas se você estiver do outro lado e alguém lhe ofertar seu afeto, não seja tolo em recusar, caso seu coração esteja livre. Na vida real, nem sempre o amor brota ao mesmo tempo em dois corações. Às vezes, o amor encontra um coração mais ansioso que se entrega mais rápido enquanto no outro não brota nada no princípio (às vezes até brota), mas a prudência (muitas vezes puro medo) diz para não se entregar a estranhos e o sentimento é podado diariamente para não crescer além do que pode ser controlado. Mas a paixão pode ser alimentada e a afeição, por conseguinte, desenvolvida. O medo tão-somente precisa ser dissipado para que as almas se permitam conhecer e se encantar.

domingo, 5 de junho de 2011

Amor Humano (Imperfeito)


         A época de suspirar pelo príncipe encantado escorrera há muito por entre os dedos do tempo. Agora se faz urgente mudar o pensar e focar os anseios na busca por um amor humano (lê-se imperfeito) e possível de ser encontrado n’alguma esquina ou, quiçá, na fila do banco, no caixa do supermercado ou no ponto de ônibus.
         A idade começa por mostrar seu peso e o último desejo que posso acalentar é o de perpetuar minha solidão. Então me percebo com uma difícil missão: abrir mão de algumas exigências quanto ao meu par. Afinal, é deveras estafante retirar estes vícios e (in)virtudes incrustados em meu íntimo.
         Características físicas e materiais deixaram de me preocupar há um tempo que nem me atrevo a contabilizar. O que busco – o clamor do meu âmago – é uma alma. Não quero que ela me seja gêmea. Já basta uma de mim em minha vida. Quero alguém diverso, mas que tenhamos algumas afinidades para termos o que compartilhar quando nossas bocas ansiarem por um descanso. Quero que o amor tenha alguns defeitos e qualidades que me faltam para que haja um equilíbrio; para que assim nos completemos.
         Uma pessoa perfeita (sinto dizer que esta não existe) é monotonamente previsível. E a graça da vida é sua constante mutação (para melhor, claro).
         Quero salientar, todavia, que meu coração não está aberto para qualquer um. Mas estou disposta a abrir mão de algumas exigências se for um cavalheiro que valha a pena. Contudo, de duas eu faço questão: amor sincero e disposição para crescer junto comigo.
         Posso ser flexível, mas não serei irresponsável, tampouco masoquista, de entregar meu coração para algum exterminador de sonhos. 

sábado, 4 de junho de 2011

Rascunho


         Sobre o quê eu posso escrever? Amores não correspondidos? Não. Solidão? Não. Carência? Dá no mesmo. Xi, meus assuntos estão se esgotando.
         Não quero escrever sobre uma coisa que ainda não tenho nem reviver algo que deve ficar no passado. Você sabe o que isso significa? Mas não importa o assunto, o texto saíra sofrível. Afinal, tanto a carência como o saudosismo (lê-se cutucar velhas feridas) machucam o mesmo tanto.
         Eu não estou sem inspiração. Só não queria escrever novamente sobre estes assuntos que me desgastam tanto. Você entende? Também estou sem paciência para escrever textos neutros que nada têm a ver com o que estou sentindo só para provar que a escritora está ativa dentro de mim.
         Verdade seja dita: foram poucos os textos neutros que escrevi nesta vida. Talvez só as redações para o colégio e olhe, olhe.
         Acho que vou publicar este rascunho só para vocês verem como é difícil a vida de um escritor. Ainda mais a de uma escritora que desde seu primeiro contato com a literatura decidiu escrever sobre si mesma, tendo seus pensamentos e sentimentos convertidos em verso e prosa.
         Nem todas as pessoas agüentam ler textos sobre o mesmo tema por um longo tempo seguido, ainda mais quando se trata de coisas tristes pelas quais todos já passaram ou ainda vão passar. Por isso estou evitando (ao máximo) escrever sobre os temas que citei no início deste rascunho: para poupá-los.
         É isso. Até mais.