domingo, 29 de janeiro de 2012

Quando o Frio Vem Aquecer

         A visita que não veio ligou. Um telefonema... Como direi? Aquele que a gente sempre deseja receber numa noite fria. Disse meia dúzia de palavras, ou talvez três quartos de dúzia, e comunicou: “Pedi para a saudade lhe fazer companhia enquanto não chego”. Certo. Olhei em derredor e contemplei o apartamento vazio de mim e tão sufocado de quinquilharias. A linha foi cortada de súbito. A saudade segurava o fio do telefone.
         Minha vontade era um chocolate quente, um riso depois de ter sido estabanada e um beijo para conter o riso. Sorrir com os olhos para ouvi-lo dizer: “Que olhinho lindo!”. Feliz eu fico. Encabulada também. Mas a felicidade, creio eu, seja maior que a timidez.
         A saudade veio se oferecendo para esquentar o chocolate. Como queira. Eu, para aquecer-me, fui ao quarto pegar um edredom e um livro. Aquele mesmo que você tirou de minhas mãos naquela outra noite sedenta de nós. Sorri, divertida e ouriçada com a lembrança.
         A chuva precipitou-se sobre o asfalto. Percebi pela névoa cinza que entrou úmida pela janela. Um vento frio veio aquecer-se, ousado, abraçando-me como você. O chocolate quente alcançou minhas mãos em seguida e eu beijei a caneca, ávida. Sorvia a ti naquele líquido meio-amargo.
         O telefone tocou. Você, do lado de lá, trovejava a vontade de me ver também. Do lado de cá, eu relampejava. A umidade do ar a tornar-nos mais sedentos a cada palavra gemida junto ao fone.
         Minha orelha ficou quente. E o namoro por telefone foi muito além de uma mera cartilagem aquecida. Ficamos um tempo sem tempo a contar naquele mundo paralelo, lugar só nosso; coautores que somos de carícias intrínsecas que não sabem onde começa o distante.

Vinte e Nove de Janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sobre os Nossos Olhos


Esses teus olhos sedentos,
Não raro, se afogam na doçura dos meus
E me afogam, doces, na sede dos teus.

Se tu gostas dos meus olhos de cometa,
Dir-te-ei: Adoro os teus de planeta!
Faz um pedido a esta estrela cadente
E mergulharei nos teus anéis de Saturno.

Olhos teus, olhos meus.
Olhos meus tão teus.
Olhos teus que se fazem meus.

Seja sede ou doçura,
Seja uma sede de doçura,
A sede é mútua.
E a doçura também.

Nove de Janeiro de 2012

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ao Meu Poeta do Mundo

Meu poeta lindo!
Poeta que se espalha pelo mundo
Em forma de poesia, que beija os olhos dos leitores
Com suas rimas. Poeta meu que oferto ao mundo sem receios
Pois às vezes também me faço poesia.

Seis de Janeiro de 2012