domingo, 10 de abril de 2011

Antes da Escritora...

       Aos doze anos, em mil novecentos e guaraná de rolha, antes de eu me enveredar pelos caminhos da literatura e me tornar escritora, eu era uma criança pura e inocente e com o coração livre totalmente. Com as histórias, que passei a escrever e as que li/vi/ouvi, fui me tornando cada dia mais refém de um movimento que fez a maior algazarra em minha alma; deixou toneladas de panfletos e cartazes espalhados por toda minha matéria etérea, e a lembrança das buzinas ressoando dentro do cubículo em que minha alma se debate: o Romantismo. 
       Deixei-o entrar por gentileza e ele, como uma visita folgada, começou a mexer nas prateleiras de minha mente e a mudar tudo de lugar. Teve a ousadia, inclusive, de (re)moldar meus devaneios e objetivos. Deixou tudo com semblante poético e sublime. 
       No começo tudo eram flores. Eu estava fascinadamente apaixonada por esta visão mais bonita das coisas. Mas a partir de certo momento, percebendo que na vida real do cotidiano não acontecia o que encontrava nos livros (até mesmo aqueles de autoria própria), deprimi-me. 
       O romantismo continua tão forte e intenso quanto antes, e a depressão cada dia toma proporções mais avassaladoras.
       Estou revoltada com tudo isso. Gostaria de arrancar o Romantismo do meu eu mais profundo, mesmo que isso me custasse algumas vísceras, e ser mais autossuficiente desta baboseira toda de amor. Se para isso eu tivesse que me tornar adepta ao Realismo, que fosse. Só não queria ter meu coração dilacerado novamente pela paixão e ter que, mais uma vez, esquecer o objeto de minha afeição.
       [Suspiro] Outro desabafo que termina com incógnitas.


Desculpem-me a revolta poética, mas precisava regurgitar isto tudo.

Nenhum comentário: