domingo, 7 de janeiro de 2018

Do desenho que lhe prometi


Acabo de queimar o desenho que lhe prometi. Eu sei, eu o prometi a você. Também sei que, quando o prometi a você, meu sentimento ainda parecia recíproco. Tanto parecia, que convenci-me a desenhá-lo. Agora, vejo o fogo alto queimá-lo. Em breve será pó, exatamente como as minhas esperanças. Queima, coraçãozinho, queima. Queima cada lágrima, cada sonho.
Enquanto observo o laranja quente do fogo, lembro com exatidão o quanto você ficou empolgado quando viu o desenho e a carinha que você fez ao pedi-lo para mim. Eu pensei, sincera e ingenuamente, que você soubesse o que aquele desenho representava e que, justamente por sabê-lo, você o queria para si. Mas você não sabia, ou fingiu não saber, que eu queria para nós exatamente aquilo que eu havia traçado e colorido no papel. Eu, porém, tinha plena consciência disso e, agora que este amor morreu antes mesmo de nascer, não tenho mais motivação para concluir o desenho. Não tenho motivação para alimentar um sonho que era só meu. Então, resolvi rasgá-lo e queimá-lo. Afinal, se você não quer a situação que o desenho ilustra, também não darei minha arte a você. Prefiro extingui-la, assim como extinguirei o sentimento que tenho por ti.