segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Por uma ciência humana

            


            Trote na universidade. Veterana, não participei, mas tirava os olhos de Zé Lins[1], às vezes, para observar. Sou curiosa, como convém a um cientista. Não sei qual era a turma que estava aplicando o trote, de qual curso eram veteranos, mas achei interessante as frases que eles exigiram que os “feras” repetissem, tais como: “Prometo honrar o meu curso”, “Prometo honrar os professores”, “Prometo não reprovar nenhuma cadeira”. Uma frase, porém, me fez largar Zé Lins completamente: “Prometo não mudar para humanas!”. Confesso que fiquei em choque por alguns segundos, sobretudo por eu ser de Letras, ou seja, humanas. O grupo, deduzo, deveria ser de alguma ciência (dita) exata. Contudo, ficou em mim uma questão: que ciência não é humana? Quer dizer, que ciência não é uma criação humana? Se, em linhas gerais, a ciência é entendida como uma sistematização de conhecimentos acerca de um objeto limitado, que outra força na natureza seria capaz de criá-la, além do ser humano?
            A divisão do conhecimento em áreas e subáreas foi criada com fins metodológicos para facilitar a compreensão dos conteúdos, pois é humanamente impossível para um indivíduo dominar todas elas. Entretanto, esta divisão do conhecimento tornou-se, com o tempo, sinônimo de status. Dentro em pouco, não era mais o conhecimento que era dividido em áreas e subáreas, mas os sujeitos. Logo, aqueles jovens isolados, que um belo dia aplicaram um trote na universidade, estavam apenas reproduzindo um discurso ouvido há muito, pois não é de hoje este menosprezo pelas chamadas ciências humanas.
            A grande questão é: o que podemos fazer para reverter isso? Antes de tudo, tomarmos consciência de que a ciência é feita por seres humanos e, por isso mesmo, humana. Acima do professor, do físico, do jurista, do psicólogo, do artista, deve estar o ser humano que cada um é. E é exatamente disto que estamos nos esquecendo: da nossa humanidade. É preciso que a resgatemos o quanto antes, sobretudo nas escolas e nas universidades.




[1] Referência ao escritor paraibano José Lins do Rego.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Manda teu coração à merda


            Pega teu coração e levanta-te. Ninguém quer saber como tu andas, apenas que andes. Levanta-te! Que importa se precisas costurar ou ninar teu coração? Ninguém está interessado em tuas necessidades. Tua fragilidade? Pouco importa.  Pega teu coração e levanta-te. Caminha. Não importa se te desmanchas em lágrimas e sangue. Caminha. Mesmo que pedaços do teu coração jazam pelo caminho. O mundo não para, para que possas remendar-te. Caminha. Nem mesmo teu objeto de afeição se importa se estás agonizante. Caminha. Mesmo que teu coração vaze e se esforce para continuar vivo. Caminha. Obriga-te a sorrir. O mundo não é obrigado a suportar tua dor. Caminha. Teu coração não demora a extinguir-se de todo. Caminha. Mesmo que teus sonhos idiotas persistam. Caminha. Mesmo que teus pés já tenham atrofiado. Caminha. E, quando não mais puderes caminhar, arrasta-te, como um verme. Sê menos que um verme, pois até o verme é mais feliz que tu. Vamos! Manda teu coração à merda! Um dia aprenderás a amar.