sábado, 23 de abril de 2011

Novo Inquilino

     O amor chegou, pagou um mês adiantado, se instalou. Deixei-o ficar, o dinheiro era mesmo precisado. Não  me deu moedas de ouro ou prata, mas uma centelha de alegria me prometeu. Não trouxe caixas ou bagagens grandes, apenas uma mala pequena numa mão. Perguntei o que havia na dita que parecia tão pesada, e ele nada disse demais, apenas que era um sentimento puro e grande. Pedi que a abrisse, afinal aquilo era uma casa de respeito. Meio sem jeito, o amor abriu a mala e nada vi. Aí quem ficou envergonhada fui eu. Queria saber a cor, o cheiro, o sabor e a forma do sentimento que ele carregava, mas não pude. Ele disse que tristeza de nada adiantava, na hora certa eu seria capaz de vê-lo. Já era noitinha, então permiti que subisse ao seu novo lar. Confidenciou-me que queria se banhar e depois quem sabe descansar. 
     Não dormi a noite inteira, concebendo suspeitas acerca do sentimento dentro da mala. Formei várias imagens diversas, imersa em preceitos e crenças sobre o sentimento que o amor sempre traz consigo. Todas as imagens, entretanto, eram utópicas demais para fazerem sentido.
      O dia amanheceu. Preparei um café da manhã especial para o meu novo inquilino. Surpreendi-me ao vê-lo surgir com a mala rente ao corpo. Inquiri-o o porquê disso e ele disse que o seu conteúdo era por demais precioso. Aquilo era incrivelmente suspeito, mas mantive minhas desconfianças em segredo.
     A cada dia que passava, ficava mais curiosa. Para todo canto que ia, a mala o amor levava. Parecia ter medo de xereteiros como eu. Perguntei-lhe em certa feita a razão de tanto zelo. Como costumeiro, foi vago e revelou que o sentimento só podia ser entregue em mãos. E eu fiquei ali, do lado da curiosidade, sofrendo de antemão.
     Não obstante, um dia, o amor saiu, disse que ia fazer uma viagem para muito distante, mas a mala deixou. Fiquei surpresa, ansiosa, assustada. A dona da mala era eu? E por que ele não disse antes? Abri-a abruptamente, e de dentro saiu uma luz forte e brilhante, de uma cor que nunca vi semelhante. Havia também uma carta com os seguintes dizeres: "Entregue para o objeto de sua afeição numa noite enluarada!". Foi quando me dei conta e tive certeza que estava apaixonada. Percebi também que, o período em que o amor esteve aqui, nada mais foi que o momento que passei confabulando sobre a veracidade do afeto que nutro por ti. Amo você e nada mais há a se dizer.

Um comentário:

Anderson Meireles disse...

Belíssima confissão!
Abraço!