quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vitral

Desenho meu feito com lápis de cor aquarelável
Não estou me encontrando,
Estou me buscando,
Reinventando.

O vitral estou desmontando,
Os cacos coloridos separando,
Os fragmentos de mim peneirando.

Os pedaços excluídos isolando,
O restante reorganizando.
Os novos escolhidos procurando,
Para nas lacunas ir colocando.

O novo eu está se formando,
O vitral se concretizando.
Minha vida? Melhorando.
E a felicidade vem despontando.

terça-feira, 26 de julho de 2011

No Meio do Caminho Tem um Dente-de-leão

Este texto fiz há quase quinze dias atrás. Todavia, só poderia publicá-lo junto com a imagem da tela que o inspirou. Espero que gostem! Kissus

tela acrílica s/tela feita por mim

         Existe algo dentro de mim querendo libertar-se. Não sei o que é, mas tenho a nítida sensação de que quer se espalhar por aí, assim como um dente-de-leão quando assoprado.
         É do centro do meu âmago – um lugar quente e misterioso – que esta coisa brota. Poderia chamá-la de amor? Não, não vou mencionar um nome que talvez não lhe pertença. Eu só sei que esta coisa inominável já rompeu a fina membrana que separa o interior do exterior.
         Esta coisa, na verdade, parece estar entre duas coisas distintas. De um lado está o calor, o fogo que pode destruir ou fazer renascer, o caos ou a esperança. Do outro está o frio, a serenidade, a passividade, o escuro, o medo. O dente-de-leão está entre os dois pólos como que procurando o seu lugar, o equilíbrio de um encaixe, de uma fusão entre o azul e o amarelo para que os dois extremos dêem as mãos e estas se entrelacem.
         Talvez esta coisa inominável seja enfim uma busca. A busca pela peça que vai completar o quebra-cabeça. Talvez seja – quem sabe – a vontade de distribuir sentimentos/sorrisos/olhares pelo mundo até encontrar alguém que os esteja buscando.
         Fico a me perguntar quando o dente-de-leão, que ainda não sei se representa a mim ou a coisa, encontrará o que procura. E continuo aqui aguardando uma resposta.

sábado, 23 de julho de 2011

Sentimento Primaveril


         Como nasce uma carta de amor? Deixemos as anáguas e os palácios de fora; esqueçamos os vales e os rios. A verdadeira beleza está na parte de dentro. Os dias primaveris acontecem em meu âmago.
         Você já sentiu isso? É como se a natureza entrasse em mim e eu ficasse maravilhada com a luz que irradia dentro deste cubículo chamado corpo humano. A sua voz soa como o sussurro do vento, o carinho de suas palavras são como flores de cerejeira sobre a grama, a força das árvores representa a segurança que imagino (sentirei um dia) encontrar no seu abraço, as águas tranquilas são os seus olhos sorrindo pra mim.
         Quando estamos apaixonados, ganhamos olhos poéticos: tudo é belo, tudo é encantador, tudo é vivo e brilhante.
         Fugimos da realidade? O que é real? Quem define o que é real? Um sentimento pode ser considerado real? Se não, por que sinto efeitos físicos quando sou tomada por ele? Qual a outra causa para o brilho nos meus olhos, para a alegria vívida em meu sorriso, e para minha pele enrubescer com tanta facilidade quando penso num certo alguém?
         Eu gosto dessa sensação, desta felicidade que não precisa de motivos para transbordar.
         Gostaria de conhecer o que se passa em seu coração. O que te acomete quando pensa em mim? Você acaso também leva a natureza dentro de si?
         A esperança veio me visitar. Ela me disse que, se a sua outra metade estiver com você, as duas se transformarão numa fita que nos enlaçará. Será este o presente da vida: o amor.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Jeito Certo

Queria te tocar.
Existe um jeito certo pra isso?
Mais romântico? Mais firme?

Qual o percurso dos dedos?
Mais hesitante? Mais ousado?
Existe um jeito certo de tocar?

Um padrão rígido a ser seguido?
Quero acreditar que não.
Que o único jeito é o que eu gosto.
E o grande desafio é descobrir o seu gosto.

Que tipo de toque ambos gostam:
Um de dar e o outro de receber?
Este é o jeito certo de tocar.
Então, permita-se descobri-lo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Brilho Incondicional

Símbolo da Amizade. Peças em argila feitas por mim.
Um símbolo. Uma amizade. Dois corações que se gostam reciprocamente no mais 'irmanal' sentido do verbo.
A amizade (não confundir com coleguismo) é um amor incondicional. Mesmo que você fique chateado, de cara fechada, e até passe alguns dias sem falar com seu amigo, depois que a raiva passa, o amor retoma a consciência assim como o sol aparece esplendoroso depois que as nuvens de chuva se dissipam.
Só de ver o brilho nos seus olhos e seu sorriso aberto se dirigindo a mim, sinto-me satisfeita e jubilosa, pois tenho certeza de que sou benquista e, de igual modo, minha companhia o agrada. Do mesmo jeito que meus olhinhos ficaram brilhando ao chegar neste ponto do texto.
Obrigada, meu amigo (minha amiga) por sê-lo e obrigada pelas sensações boas que me traz e as faíscas de luz que deixa em meus olhos.

domingo, 17 de julho de 2011

Permitir-se


Permito-me abrir meu coração para o amor.
Permito-me não me controlar tanto.
Permito-me sorrir mais e dar pulos de alegria quando sentir vontade.
Permito-me mostrar meu olhar sem medo.
Permito-me mudar.
Permito-me ser moleca às vezes.
Permito-me acordar feliz por mais um dia.
Permito-me livrar meu ser da carência e do apego.
Permito-me desmistificar o príncipe encantado.
Permito-me mudar.
Permito-me dizer não.
Permito-me tirar meus sonhos do diário.
Permito-me perder o medo de fracassar.
Permito-me deixar de lado a timidez.
Permito-me mudar.
Permito-me mostrar minha alma.
Permito-me abandonar velhas inseguranças.
Permito-me rever meus conceitos de comportamento.
Permito-me abrir mão de pensamentos derrotistas.
Permito-me mudar.
E, mudando, permito-me deixar o eu antigo para trás.

sábado, 16 de julho de 2011

Toque Desengonçado

Quero respirar teu cheiro
Alimentar-me de teu beijo
Proteger-me em teu abraço.
Preciso sentir-me segura em seu mundo
Para poder explorá-lo
E deixar de lado minha falta de jeito.
Antes, minhas mãos parecem
Que a tocar não aprenderam
E a boca é como se nunca antes
Houvesse beijado.
Não sei ao certo como pisar no tapete
Quanto mais abrir a porta.
Mas se você tiver um pouco de paciência
E relevar meus toques desengonçados,
Talvez eu consiga materializar
Todos os pensamentos que tive até hoje
E os desejos que reprimi
Por medo de parecer boba e desajeitada.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Doce Ignorância


Eu não sei nada sobre o amor.
As palavras falam sozinhas
Teses que me são desconhecidas.
Simplesmente lanço no papel seu clamor.

De que adianta seu beijo
Se não tenho seu abraço?
Se não fui laçada por seu cheiro
Nem senti sua alma no meu laço?

Talvez seja afeto, carinho.
Talvez seja romantismo, ingenuidade.
Gosto disso, dessa doçura.

E se isso me faz inferior,
Menos atraente,
Que se há de fazer? Não sei a cura.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Cômodo de Cada Um


         Era uma casa na floresta. Sua fachada era simples, mas produzia um certo encanto nos observadores. À noite, parecia ter uma luz própria, mesmo nas noites sem luar. Muitos passavam direto por ela, talvez por medo. Outros paravam no jardim e ficavam contemplando-a.
         Sua única moradora era uma velha senhora de idade incomensurável. Às vezes, ela saía à porta e observava os transeuntes. Alguns sorriam e ela se aproximava. Cada pessoa era conhecida e, em pouco tempo, a velha senhora dizia até que ponto da casa aquela criatura poderia ir.
         Alguns ficavam no terraço, outros podiam entrar para a sala, uns poucos tinham a oportunidade de chegar à cozinha e raros eram os que conseguiam conhecer os quartos. O lugar dependia da confiança que a pessoa despertasse na velha senhora. Alguns ela confiava quase nada e estes ficavam no terraço. Esta condição poderia ser temporária e depois a pessoa instigar confiança para passar à sala, ou poderia ficar a vida inteira no terraço. Outros exalavam tanta confiança que logo iam para a cozinha e, por conseguinte, para os quartos, onde ficavam conhecendo os maiores segredos da casa.
         Diversas vezes aconteceu da velha senhora confiar demais em pessoas que não mereciam tanta confiança. E estas ela expulsava para além do jardim. Não obstante as decepções, era doce e afável. Porém, tinha um certo receio em mostrar-se a todos. Mas a maior decepção de todas era, sem dúvida, quando alguém tentava forçar uma elevação de nível, principalmente quando se tratava das pessoas dispostas no terraço. Estas sempre adotavam abordagens muito bruscas e violentas.
         Certas pessoas, entretanto, a velha senhora confiava tanto que lhe faltava chaves para entregar a elas. E não se tratava de paixões, eram em sua maioria amigos. AMIGOS. O cantinho do amor estava todo decorado; vez por outra ela limpava tudo, só esperando o dia que ele chegaria. Mas desde tempos longínquos este estava vazio.
         Esta era a vida da velha senhora: selecionar pessoas para adentrar seu coração na esperança de que alguma delas trouxesse o metal precioso do amor para iluminar e aquecer a casa solitária da floresta.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Carta Apelativa


         Mundo das Letras, Cinco de Julho de 2011

         Meu querido Português

         Gosto tanto de ti. Então por que não me ajudas um pouquinho? Tu sabes a norma culta, aquela velha ranzinza que quer que tudo seja à sua maneira? Pois é. Ela insiste em colocar todas as pessoas na minha frente! Absurdo! Até mesmo quando é minha própria boca quem pronuncia os verbetes, o você/ele vem obrigatoriamente antes de meu singelo eu. E, se eu insisto em me destacar tomando a dianteira, ela logo vem me sublinhar com aquela tinta vermelha. Arbitrária! Não tens como dar um jeito nela? Eu queria me mostrar para o mundo, mas com todos esses vocês e eles antes do meu eu, sem contar as conjunções, verbos, adjetivos, substantivos e advérbios que me cercam por todos os lados, acima da minha cabeça e abaixo de meus pés, enlaçando todos os meus membros, eu não tenho como. Fico muito escondida no texto; transparente no contexto.
         Com tantas reformas ortográficas, ainda não se sucedeu uma que seja a favor do primeiro pronome pessoal do caso reto (singular). Veja bem: primeiro. Então por que ele tem que vir depois? Eu não entendo.
         A norma culta é tão abusada, não acredito que ela seja tão altruísta a ponto de sempre colocar os interesses dos outros antes do seu. À propósito, ela é o oposto. Caso contrário, não imporia tantas regras e nem seria tão taxativa: “Ou é do meu jeito ou está errado!”. Ela é do tipo que manda fazer uma coisa e faz outra. Que tipo de exemplo ela está querendo dar para os novos desbravadores da língua? Nós já somos antigos nesse ramo e conhecemos bem a peça. Mesmo assim não me conformo. Nem me conformarei nunca.
         Não sou dada a desregramentos, mas gostaria que o meu eu tivesse um pouquinho mais de espaço entre as reticências para mostrar a plenitude e a beleza de suas duas letras.
         Era só isso que eu tinha a dizer.

Com estimas,
Sara Regina Carvalho

domingo, 3 de julho de 2011

Devaneios em Par nª1

Poema feito em conjunto como meu querido Andy (@AndeMeireles). Espero que gostem.

Ensaio um vôo breve que daqui me leve.
Para onde? Qualquer lugar longe do desamor.
Um palácio, um jardim, uma rua, um coração.
Uma doce ilusão que me preencha de esperança novamente.

Meu corpo é imenso e o mundo apertado demais.
Um cubículo onde espremo minha essência.
E essa nuvem que me acompanha
E a mim se assoma, me toma, me doma.

Eu não sei porque isto me consome.
A cada instante sinto apertar o peito.
O ar é vomitado como se fosse rejeitado.

Um desvario lúcido.
Um porto inseguro
Uma pequena fenda por onde o amor possa entrar.

Breu Completo


         Amanheceu em minha alma. Porém, ainda continua escuro. Acordei exaurida. O novo não despertou em mim nenhuma esperança. Como o vento me trouxe em alguma feita: “Acredito no amor, mas não que ele seja pra mim”.
         Amanhece, anoitece, mas não faz diferença nenhuma. Continua escuro e desesperançoso. À noite, todos os gatos são pardos, mas eu sou invisível mesmo ao sol do meio-dia.
         Pensei que só os heróis fantásticos tivessem o dom da invisibilidade. Mas eu sou translúcida, vagueio por entre as pessoas que me atravessam indiferentes e não tenho super poder nenhum. Nem ao menos o de reverter a invisibilidade. Isso não é um dom, é uma condição imposta. Imposta por quem? Pelo destino? Pelo carma? Pelo capricho dos deuses?
         Eu ainda quero acreditar. Mas a minha esperança é tão ínfima, microscópica. Não acredito em milagres, mas só um para me fazer crer que o amor seja pra mim também.
         Meu corpo tem vinte e poucos anos, mas meu espírito deve ter uns mil, para estar tão exaurido e descrente. Eu não o culpo. Parece mesmo que o amor nos excluiu de suas responsabilidades.
         Um dia, logo no começo de minha vida de escritora, escrevi-lhe uma carta perguntando por que ele havia sumido. Ele até respondeu a carta, mas nunca veio. Só deu algumas passadas rápidas para dar-me uma alegria ínfima e depois deixar uma dor dilacerante no meu peito. Mas não vou escrever outra carta pra ele, é perda de tempo.
         Vou ficar aqui com minha velha conhecida: a desesperança. Às vezes ela fica feliz com uma lata de brigadeiro e me dá uma trégua de algumas horas, até de alguns dias, quando está de bom humor.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Rapidinha

Seu olhar no meu. O meu no seu.
Bocas acopladas em inspiração.
Sua mão pulsando em minha pele.
Seu toque ardente saindo por minha expiração.
Nossas línguas sedentas.
A invasão de meu âmago.
Seu movimento, nosso prazer.
Mordida no próprio lábio por um grito contido.
Sua exaustão recompensada por nossos sorrisos.
Seu orgulho refletido em minha paixão.
Dois corações felizes em corpos satisfeitos.
Um abraço gostoso aninhando um sono reparador.