Alessa estava apoiada no parapeito da janela, a mão no queixo, os olhos cintilantes e perdidos n’alguma lembrança. A paisagem à sua frente era belíssima, a grama verde do jardim reluzia à luz do sol, e as colinas em torno da propriedade de seus pais pareciam reservar algo muito bom.
Um som distante ressoou. O relógio da sala marcava exatamente oito da manhã. Alessa aprumou-se, ajeitou a saia de seu vestido perolado, correu ao espelho e arrumou a trança no cabelo. Ele estava chegando!
O coche parou rente a entrada e Bertoli desceu um tanto atrapalhado com a maleta numa mão e segurando o chapéu – que insistia em voar – com a outra. Alessa correu para a sala de estudos quando o viu, sentou-se à mesa e fingiu ler um livro.
Quando Bertoli entrou no cômodo, esboçou um largo sorriso ao vê-la aparentemente tão concentrada. Ela o olhou pelo canto dos olhos, seu coração estava em vias de sair pela boca. E no exato momento em que seus olhares se encontraram, sua pele enrubesceu.
- Está pronta para começarmos, senhorita?
- O que disse, senhor? – Seus olhos estavam completamente imersos nos dele.
- Os estudos, senhorita. Podemos começar?
- Oh, sim! Claro!
- Se me permite o comentário, está com o semblante tão luminoso hoje.
- Obrigada. – E ficou vermelha. – São seus olhos.
- Vamos começar? – Bertoli mudou de assunto abruptamente, tentando evitar que suas faces também corassem.
Alessa assentiu e começaram por literatura. A leitura de poesias clássicas e romances inspiradores na voz máscula e vigorosa dele fazia Alessa perder constantemente o foco e imergir em suas utopias sobre o homem à sua frente. Ele era tão lindo! Não tinha muito porte, mas os traços fortes contrastavam – numa combinação perfeita – com seus olhos doces e seu sorriso jovial.
- Senhor Bertoli, desculpe-me a ousadia, mas poderia lhe fazer uma pergunta deveras íntima?
- Claro, senhorita – disse, tentando conter-se, mas ainda pôde ser visto um leve rosado em suas bochechas.
- O senhor teria coragem de declarar-se para a mulher amada?
- Lógico que sim! Não, minto. Agora a senhorita me deixou numa situação difícil. – Alessa riu. – Meu rosto está vermelho como um tomate, não é?
- Sim. Mas está mais lindo ainda. – A última frase saiu sem que pudesse segurar as palavras. Então foi a vez dela corar.
O minuto de silêncio que seguiu pareceu infindo.
- Senhorita, acho que já estudamos o bastante por hoje. – E começou a recolher suas coisas.
- Não, espere! – Ela, atrevida e impulsivamente, pôs sua destra sobre a dele. Balbuciou: - Sente o mesmo que eu, não é?
- Sinto. Mas não deveria sentir. – Bertoli evitava olhá-la nos olhos. – Sinto muito se alimentei alguma esperança sua.
- Pare. Você está com medo. Eu também. Mas nem por isso quero abdicar deste sentimento. Quero vivê-lo!
- Eu também. Não, já estou falando sem pensar.
- Não pense. Aja.
- Senhorita...
- Alessa.
- Alessa, entrarei nessa sem saber se sairei vivo – balbuciou arfante. E beijou-a vigorosamente, trazendo-a para junto de si.
- Sim, foi assim que sonhei este momento – sussurrou.
- Depois dessa, seus pais não me deixarão mais ser seu professor.
- Não me importo. Quero que seja mais importante que isso em minha vida.
- E eu serei, mesmo que para isso tenhamos que criar um mundo só para nós.
Alessa sorriu e Bertoli roubou-lhe mais um beijo.
2 comentários:
Mundos criados...
Beijos roubados...
eu adorei o texto!
Que lindo seu blog...Parabéns!!!
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