segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O dia em que ganhei uma música

Um dia de domingo. Os domingos, geralmente, são monotônicos; terrivelmente lineares e previsíveis. Este, porém, foi atonal. Tantas coisas aconteceram, que não sei precisar qual foi a melodia predominante. Aliás, para quê fugas? Já fugi tanto! Então, até às paredes confesso: sinto o largo tornar-se allegro.  O noturno, que durou cinco anos, promete reverter-se em tocata.

Um dia de domingo. Na verdade – preciso te falar -, o movimento iniciou-se no sábado. Como uma boa filha de Saturno e de Janaína, o meu dia mais bem arranjado é o sábado. Entretanto, eu não previ que o domingo fugiria tanto assim do estribilho. Uma fuga deliberada. Um desconcerto da prolepse.

Um dia de domingo. O dia em que ganhei uma música. A música não é sua nem foi inspirada por mim. No entanto, ela me foi dada por você e agora é minha. A sua versão é, doravante, parte desta disritmia que sou eu. Às vezes, sou uma 5ª de Beethoven. Outras, uma Blue Moon, na voz da Ella. E, muito raramente, uma Meditation from Thais, na flauta de pan do Zamfir.

Um dia de domingo. O mais dissonante de todos. E esta dissonância, ao que harmoniza, caminha compassadamente para uma consonância. Consoante, dá rima. Afinal, não dá para fugir dessa coisa de pele.