sexta-feira, 29 de maio de 2020

Um corpo que clama por sentir



Neste dia frio e chuvoso de um quase junho, eu sou um corpo. Um corpo que clama por sentir. Sentir com o corpo todo, não apenas com os olhos e ouvidos. Sentir tudo o que houver para ser sentido. Preciso sentir o mundo ao vivo e a cores. E sentir vai muito além de ver a chuva na varanda, soprando sonhos em nossos ouvidos.
Eu sou um corpo. E o frio, mais do que o calor, recorda-me isto a todo instante. Eu sou um corpo que anseia por ser aquecido. Um corpo. Um corpo vivo e pulsante, que não pode ser suplantado por ideias ― por mais prolíferas que estas sejam.
Eu sou um corpo. Um corpo que, confinado, anseia por outro corpo. Um corpo que clama por sentir. Sentir tudo o que houver para ser sentido. Sentir o olho no olho; o pele na pele. SENTIR. NÃO VER. Afinal, eu sou um corpo. UM CORPO.
Eu sou um corpo. Um corpo que sente toda a intensidade da minha Lua em Leão. Um corpo que sente toda a urgência da minha Vênus em Sagitário. Um corpo que sente o menor estímulo. Um corpo tão vivo que, muitas vezes, desço aos recônditos da minha mente para não senti-lo com tanta força.
Eu sou um corpo. Um corpo que ferve, expectante. Um corpo que observa a chuva na varanda, sonhando com um café quente e forte ― em boa companhia. Eu sou um corpo. Um corpo tantas vezes negado em prol de uma sobrevivência em sociedade.
Eu sou um corpo. Um corpo que clama e suspira por liberdade, desde muito antes da quarentena que nos foi imposta. Um corpo que anseia por viver tudo o que houver para ser vivido.