terça-feira, 28 de junho de 2011

Mal Crônico


         Meu coração sofre de um mal crônico. Uma tristeza que volta e meia ressurge de minhas entranhas. Um sentimento de vazio imune a multidões. Tanto faz se passo pelo epicentro do tumulto ou se me esgueirando pelas sombras, se saio empacotada ou despida, ninguém o vê.
         Será que o meu coração é fruto de minha mente solitária assim como os romances que fantasio? Será que existe uma máquina em seu lugar que faz o mesmo barulho que o músculo? Eu o sinto doer, comprimido no peito, e, em raras ocasiões, acometido por uma alegria ínfima. Então por que as pessoas não se apercebem de sua existência?
         Às vezes queria ser mais medíocre, mais defeituosa. Minhas qualidades nunca tiveram utilidade nenhuma. Só fazem com que as pessoas tenham que enumerá-las antes de pisar em mim e me jogar para o lado.
         Queria que as pessoas ao menos vissem meu coração antes de ignorá-lo. Acho que vou fazer um corte no peito e andar na rua com o músculo sangrando à mostra. Assim todos verão que eu tenho um coração.

3 comentários:

DURVAL MATTA PIRES DE MOURA disse...

Muito bom, Sara. Um sentimento que é compartilhado por muitos, mas, assumido por poucos. Uma descrição exata do que sinto eventualmente, com relativa recorrência. Lembre-se que se não houvessem, em nós, os sentimentos que temos, os nossos escritos não assumiriam os mesmos contornos que possuem. Ou seja, o seu sentimento não teria me tocado da maneira que tocou, chegando a assemelhar-se ao que eu mesmo sinto através dos meus sentidos. Existe um dever, uma missão. Continue caminhando, deixando as suas impressões... Parabéns, minha amiga.

Anderson Meireles disse...

Poeticamente triste. Dolorido sem deixar de ser belo. O que mais as pessoas precisam para constatar que aí dentro pulsa um enorme coração?!
Um abraço!

Sara Carvalho disse...

Obrigada, meninos!!