domingo, 27 de março de 2011

Nota de Falecimento

         O romance morreu. É triste, mas é a dura e cruel realidade. Soube hoje de uma boca qualquer que não teve pena de mim e do meu flagelado coração.
         Eu não sei onde, nem quando, nem de quê. A data perdeu-se por entre os dias nublados de minha busca. Busca por sonhos que, se antes se mostravam enevoados, agora estão escuros e intangíveis.
         Sinto-me órfã. Um sentimento abstrato e indefinível assola-me. Instalou-se um vazio em mim. Como pode? Não cheguei a tempo de conhecê-lo pessoalmente e ele se vai assim: sem me deixar uma carta que seja? Não fazia nem questão que fosse manuscrita com letras artísticas, podia ser digitada com uma simples Times New Roman. Podia ser até um bilhete com meia dúzia de palavras. Eu não me importaria.
         Queria entender. Por que, por que antes de sua morte ele não designou alguém para mim? Não conhecia ninguém que coubesse em minha vida? Sou eu tão pequenina que não comporto ninguém além de mim?
         Estou desolada. Minha vida até agora se resumia a uma eterna busca pelo romance. E agora que ele morreu qual será meu motivo para viver? Acho que terei de me contentar com os registros deixados por aqueles que tiveram intimidade com ele. Os sortudos que puderam vivê-lo com tal intensidade que o moldaram em livros, filmes e músicas.
         Mas não consigo me conformar. Ele não podia ter morrido antes de eu experimentá-lo! Isso não é justo! Não é mesmo.
         Que raiva! Juro que se o romance já não estivesse morto, eu mesma o mataria!

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, Sara... Apaixonei-me por este texto! HAHAHA! Está lindo! Os sentimentos estão tão nítidos que consegui sentir a tristeza e a revolta do eu lírico. Parabéns, poetisa!

Abraços do @poemasavulsos.