sábado, 27 de agosto de 2011

Cristal de Vidro

         Sim e não. Sim ou não. Não existe espaço para um talvez. Talvez é a resposta automática de quem não sabe o que quer. Quando alguém faz-nos uma pergunta, a resposta já vem, seja do coração ou do cérebro. Porém, não raro, hesitamos em aceitar aquela resposta e pronunciamos o talvez. 
         O homem (a humanidade) é bicho complicado, condicionado, quase sempre, à opinião alheia. A emoção e o corpo dizem sim, mas a razão – no momento mais crucial – lembra-se da opinião – que talvez – sua mãe, seu vizinho, sua tia-avó, seu papagaio venham a ter e recusa-se a ir. E quem comanda o corpo é o cérebro, portanto, se ele disser: “Não, eu não vou!”, nem o seu mindinho do pé sai do lugar. Mas o cérebro, apesar de agir como um deus maior do nosso universo particular, não é onisciente, isto é, ele não sabe – sempre – o que é melhor para nós. Sendo bem sincera, às vezes ele é muito medroso: “Não, eu não quero macular a minha reputação”. Grande reputação! Se você se acostumou a dizer não quando na verdade queria dizer sim só para não matar sua tia-avó (já com cem anos e cuja voz já está sumindo e a audição nem se fala!) de desgosto, então sua reputação é mais falsa do que um cristal de vidro.
         O ser humano é falso, uns mais, outros menos, mas todos são. E pior: são falsos consigo mesmos, visto que o outro – na hora pelo menos – não tem como comprovar a falta de veracidade de suas afirmações.
         Sim e não. Não podemos viver só de sim, senão somos bestas, passivos, subservientes demais. Também não podemos usar só o não, caso contrário seremos os chatos, antipáticos, caretas. Saibamos, então, equilibrar os dois e quando utilizar cada um deles. Procuremos (eu estou mais que inclusa nisso) sermos sinceros conosco antes de sermos com terceiros. Sempre vai ter quem fale mal de nós, mesmo que seus argumentos sejam uma máscara de papel machê que usa para acobertar sua inveja. Saibamos, outrossim, reconhecer quando a razão estiver com a razão.
         Porquanto, de quê adianta agradar aos outros se não abastecemos regularmente nossa reserva interna de amor-próprio? É fato irrefutável que nunca seremos felizes se apenas fizermos o que é aprazível para as pessoas que nos são caras (e dentre estas não está quem deveria ser a primeira da fila: nós). Afinal, a felicidade consiste em amar a nós mesmos, e, quem ama, procura o bem-estar do objeto de sua afeição. Com isto não estou querendo dizer para colocar-nos num pedestal, ou sermos narcisistas. Simplesmente quero dizer que o elogio, a aceitação e a felicidade precisam nascer de dentro para então irradiar para fora, só assim não ficaremos condicionados aos “achismos” de outrem.

2 comentários:

Anderson Meireles disse...

Acho que tudo depende um pouca das "máscaras" que usamos. E todos usamos. Seja por maldade ou defesa, sempre apresentamos uma máscara. O pior é quando, ao longo da vida, nos esquecemos do formato do próprio rosto, mesmo diante de um espelho.
Abraço, menina!

Poeta da Colina disse...

A sincerida e honestidade de não separar o de dentro do que há por fora.