sábado, 6 de agosto de 2011

Árvore-pássaro

Emergindo da Escuridão - tela minha (óleo s/ tela)


         Sou uma árvore. Meu tronco é largo e minhas raízes, fortes, estão bem fincadas na terra. Minha copa é frondosa, galhos de diferentes espessuras sustentam-na. Eu tenho estabilidade como poucos irmãos meus da flora. Até acho belo o balanço das hastes infantes ao sabor da brisa, mas sempre me mantive firme. Eu sou uma árvore imponente, um poderoso carvalho, não posso me curvar diante de qualquer brisa.

         Eu sou o vento. Sou livre e vou onde eu quero. Não tenho obrigação de ser constante, eu sigo meu espírito. Minhas velocidade e intensidade dependem do quão feliz eu esteja. Quanto mais rápido, mais feliz estou. Adoro cantar para as hastes pequeninas dançarem. Porém, tem uma árvore que admiro muito. Ela é grande e forte, e são poucos os seus galhos que dançam ao ouvirem minha música. Às vezes tenho vontade de ser firme e estável como ela.

         Um dia, o vento foi conversar com a árvore. Depois de alguma resistência, esta permitiu que sua copa bailasse. Mas os galhos grossos eram rígidos e apenas os mais finos conseguiram dançar. Todavia, a árvore gostou da sensação de ter suas folhas assanhadas pelo vento.
        Com o tempo, ambos se tornaram amigos e as visitas do vento se tornaram uma constante. A árvore foi se soltando mais, deixando-se envolver pelo vento. Apaixonou-se. Mas o vento não podia vir pra terra, ele era livre demais para fincar raízes no solo.
         Foi então que a árvore decidiu virar pássaro, assim poderia acompanhar o vento e gozar de uma mesma liberdade.

         Eu, a árvore, estou abrindo mão de meus padrões rígidos e inflexíveis. Minha copa está começando a ganhar asas. Devo confessar, contudo, que minhas raízes ainda estão bem presas ao solo, porém o processo de libertação já teve início.

3 comentários:

Anderson Meireles disse...

É impossível parar de olhar para essa imagem filosófico-poética que você criou!
A palavra é: encantamento!
Abraço!

Dan Porto disse...

Tela INTERESSANTE, dona Sara.
E o texto, tão interessante quanto.
Diferente do que, em geral , você escreve. Gosto bastante.
Anderson tem razão em tudo.

Sara Carvalho disse...

Obrigada, meninos!
Dan, recentemente comecei a escrever textos mais filosofados; estou bem envolta com esta questão da busca interior.
Alegra-me muito saber que estão gostando desse estilo!
Grata pelo carinho!
Abraço!