quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ecos na Noite Escura


         No vazio da minha mente ecoa uma pergunta. Sempre a mesma a perturbar meu fraco juízo. Um uivo que ressoa por todo o vale e mais além. Mas a reposta nunca aparece na noite escura. Nem ao raiar do dia. "A luz que não é vista na escuridão certamente será ofuscada pelo sol" – ouço dentro de mim. Meus olhos, pesados, cerram um instante em concordância.
         Existe meio-termo? – eis a questão. Existe uma distância mensurável entre o oito e o oitenta? Alguns quilômetros... Talvez muitas léguas náuticas. Vários náufragos pelo caminho. Como eu. Ou quem sabe isso seja apenas ideias impregnadas que repetiram para nós em ladainha. Uma tentativa de controlar o espírito selvagem dos homens.
         A vontade é ingênua e impulsiva. Sua maneira não é a melhor. Os frutos não serão os almejados. Muito aquém disso. A regra (sociedade) impõe outro modo. Não me agrado. Na verdade, não me conformo. Custo (e não consigo) entender porque precisamos fazer o oposto do que queremos. Por que temos – desde que nascemos – o dever de perpetuar uma imagem contraditória? Não faz sentido.
         Tudo poderia ser tão mais fácil se eu pudesse seguir minha alma. O problema (sempre tem um) é que não consigo encontrá-la. Está tudo muito escuro lá dentro. E aqui fora também. Vejo os olhos das corujas me observando com seu ar de “velhas sábias” da floresta. Prontas para recriminar a mínina falta.
         A vontade e a regra brincam de cabo de guerra e eu sou a bolinha no centro. Quando a primeira vence, ponho tudo a perder com minha precipitação. O fruto é amargo. A lama cheira mal. Quando é a última, sinto-me infeliz, mesmo que o fruto seja doce e a grama macia.
         Nós lutamos por tanta coisa, mas não temos coragem de vasculhar o breu para libertar nossa alma. Não temos tempo para ouvi-la. O que ela quer? É o mesmo que a mente e o mundo exterior? “Ela quer a felicidade construída, como sapatinhos costurados à mão” – alguém sussurra na noite. “Ela não quer promessas “certas”. Nem abismos (talvez) sem fim” – o vento uiva.
         Tento, mas algumas coisas simplesmente não descem goela abaixo. Por que não podemos romper com o padrão? Simplesmente me irrita essa mania de complicar tudo. Queria seguir a ordem natural das coisas. Mas sempre temos que colocar empecilhos no caminho. Espalhar tachinhas pelo chão para ferirmos o espírito mais adiante.
         Não sei se um dia vou me render. Espero que não. Quero encontrar esse meio-termo. O refúgio da alma.

Doze de Outubro de 2011

2 comentários:

Anderson Meireles disse...

Só tem "problemas" com a alma que tem alma grande.
No seu caso, tem uma alma enorme e não deve ser fácil percorrer seus caminhos.
Mas você aprende menina tão velha quanto eu!
Abraço!

Poeta da Colina disse...

O equilíbrio é buscar ser fiel ao que se sente, e saber que muitas das verdades vão descer amargas.