terça-feira, 11 de agosto de 2020

Sobre aquietar e deixar ferver

 



Minha criança, se é mesmo amor o que você sente, aquieta e espera a paixão assentar. Espera, como a terra espera a semente germinar; com a mesma paciência e doçura. Oh, criança, respira e acolhe essa semente enquanto ela germina. 

Eu a conheço, minha doce menina. Eu sei da sua fome e deste jejum prolongado, no qual você se arrasta. E eu também sei que um jejum muito longo nos faz comer até pedra. Aquieta. Respira. Diz para o seu corpo: "Eu sei que você está com fome. Mas eu gostaria de esperar por algo que realmente nos alimentasse a alma". Sei, todavia, o quanto as necessidades do corpo parecem imperiosas, sobretudo na juventude. Por isso, aviso: não é fácil persuadir o corpo a esperar para ter suas demandas atendidas. Porém, respira.

Minha garotinha, escuta o que esta bruxa anciã lhe diz: sei que você está fervilhando, mas não se apoquente. Respira. Deixa ferver. Deixa esse amor cozinhar no tempo dele. O caldeirão não vai transbordar. Eu estou aqui.

Minha criança, ouço-a ostentar o fogo dia e noite, mas eu a conheço em profundidade. Eu ouço o que você não diz e eu farejo seu segredo mais cálido: você é água e tudo o que mais quer é fluir e transbordar. Contudo, você represa a si há tanto tempo que tem medo de se afogar em suas próprias águas, caso abra as comportas. Mais uma vez, respira. É a fome que está criando todo este caos interno. Lembra: famintos, comemos até pedra.

Oh, minha pequena, quando é amor de verdade, é leve. Sendo assim, busca a leveza em tudo que concerne àquele por quem viceja neste momento.

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