sexta-feira, 8 de maio de 2015

Caleidoscopicamente


            O livro e eu. Eu e o livro. A tela do computador entre nós.
            Os olhos passeiam pelas frases, os ouvidos mergulham numa música dentro. As pálpebras pesam. Pesam. Estão muito pesadas. As letras avançam sinuosas, começam a dançar em minha volta. Tudo gira, desfoca. Estou presa. Essas letras malucas não param de dançar. Tudo está pesado. Os olhos não conseguem avançar na leitura. Tudo gira, gira, gira. Acho que vou desmaiar. Onde fica a saída deste caleidoscópio? Eu quero... descer.
            Não sei mais se estou dentro ou fora. O livro e eu. Eu e o livro. Não sei mais diferenciar um do outro. Onde começa a obra e termina a mim? Não há meridiano que nos separe. A mesma massa disforme e inconstante nos perturba... Cada vez mais disforme e gasosa... As letras continuam dançando. Canibais, querem mais do que uma libra de carne minha.
            Estou tonta. As letras dançam, dançam... Onde estou mesmo? Estou em casa, defronte ao computador... Não. As letras dançam. Parem de dançar, malditas! Eu quero ler. Eu quero... dançar. Parem de girar. Eu quero dançar também.
            Tudo se bifurca e ramifica. Quantos corredores e espelhos! Tudo se expande e contrai. Expande e contrai. Como um pulsar. E o labirinto me abraça caleidoscopicamente. Acho que vou desmaiar. Tudo gira, gira, gira... Onde está o Minotauro para me defender? Morfeu já vem me raptar. Eu voo... Quero sonhar que danço.

            Desligo tudo. Mudo. O caleidoscópio me acompanha até a cama. Até amanhã, Dyonelio Machado, Naziazeno, leiteiro... Olá, Morfeu! – Sorrio, em meu último gesto de vigília.

Um comentário:

Poeta da Colina disse...

A palavra é apenas uma porta.