O
livro e eu. Eu e o livro. A tela do computador entre nós.
Os
olhos passeiam pelas frases, os ouvidos mergulham numa música dentro. As pálpebras
pesam. Pesam. Estão muito pesadas. As letras avançam sinuosas, começam a dançar
em minha volta. Tudo gira, desfoca. Estou presa. Essas letras malucas não param
de dançar. Tudo está pesado. Os olhos não conseguem avançar na leitura. Tudo gira,
gira, gira. Acho que vou desmaiar. Onde fica a saída deste caleidoscópio? Eu quero...
descer.
Não
sei mais se estou dentro ou fora. O livro e eu. Eu e o livro. Não sei mais
diferenciar um do outro. Onde começa a obra e termina a mim? Não há meridiano
que nos separe. A mesma massa disforme e inconstante nos perturba... Cada vez
mais disforme e gasosa... As letras continuam dançando. Canibais, querem mais
do que uma libra de carne minha.
Estou
tonta. As letras dançam, dançam... Onde estou mesmo? Estou em casa, defronte ao
computador... Não. As letras dançam. Parem de dançar, malditas! Eu quero ler.
Eu quero... dançar. Parem de girar. Eu quero dançar também.
Tudo
se bifurca e ramifica. Quantos corredores e espelhos! Tudo se expande e
contrai. Expande e contrai. Como um pulsar. E o labirinto me abraça
caleidoscopicamente. Acho que vou desmaiar. Tudo gira, gira, gira... Onde está
o Minotauro para me defender? Morfeu já vem me raptar. Eu voo... Quero sonhar
que danço.
Desligo
tudo. Mudo. O caleidoscópio me acompanha até a cama. Até amanhã, Dyonelio
Machado, Naziazeno, leiteiro... Olá, Morfeu! – Sorrio, em meu último gesto de
vigília.
Um comentário:
A palavra é apenas uma porta.
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