No
meio da manhã havia arte. Árvores elegantíssimas, vestidas com o mais puro
crochê! Comi-as todas até avançar, sedenta, sobre a malha preciosa. Senti-a,
sem pressa. Agora, eu era toda mãos.
Mãos
crocheteiras. Mãos que vestiram a árvore de arte e carinho. Mãos que vibraram
em mim quando acariciei a malha colorida de sol. Também eu teci a mim naquelas
tranças e pontos, nos seus desenhos e formas. E embebi-me, naquele momento, das
cores fluorescentes da manhã.
O
mundo ensimesmou-se. Por um segundo, fui toda mãos e meu corpo pulsou inteiro
junto à árvore. Um gozo cinestésico único.
O corpo
sorveu-me por um mísero segundo. E, nesse instante de eternidade, o logos apolíneo desapareceu.
Os
outros, porém, trouxeram-me de volta. O que estou fazendo? – A razão voltou de
súbito. Atrás de si, todos os preconceitos e pudores. E a cinestesia esvaiu-se,
proibida para mim. Contudo, ainda acariciei a dama de crochê mais uma vez, em
despedida.
A
caminho da minha próxima aula, determinei-me: não importa o que a mente diga,
foi um minuto de eternidade.
Um comentário:
A vida está nos olhos que param, não nos que passam.
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