sexta-feira, 17 de abril de 2015

Um minuto de eternidade


            No meio da manhã havia arte. Árvores elegantíssimas, vestidas com o mais puro crochê! Comi-as todas até avançar, sedenta, sobre a malha preciosa. Senti-a, sem pressa. Agora, eu era toda mãos.
            Mãos crocheteiras. Mãos que vestiram a árvore de arte e carinho. Mãos que vibraram em mim quando acariciei a malha colorida de sol. Também eu teci a mim naquelas tranças e pontos, nos seus desenhos e formas. E embebi-me, naquele momento, das cores fluorescentes da manhã.
            O mundo ensimesmou-se. Por um segundo, fui toda mãos e meu corpo pulsou inteiro junto à árvore. Um gozo cinestésico único.
  O corpo sorveu-me por um mísero segundo. E, nesse instante de eternidade, o logos apolíneo desapareceu.
            Os outros, porém, trouxeram-me de volta. O que estou fazendo? – A razão voltou de súbito. Atrás de si, todos os preconceitos e pudores. E a cinestesia esvaiu-se, proibida para mim. Contudo, ainda acariciei a dama de crochê mais uma vez, em despedida.

            A caminho da minha próxima aula, determinei-me: não importa o que a mente diga, foi um minuto de eternidade.

Um comentário:

Poeta da Colina disse...

A vida está nos olhos que param, não nos que passam.