João Pessoa, 14 de fevereiro de 2013.
Senhor Narrador
Venho através desta comunicar-lhe que não
estou satisfeita com os seus serviços. O senhor, por motivos que me são desconhecidos,
tem se mostrado deveras preguiçoso, formulando frases óbvias e superficiais. No
momento de sua contratação, eu pessoalmente lhe dei todas as informações cabíveis
e necessárias acerca do enredo e das personagens para que o senhor tivesse condições
de construir um texto profundo e instigante, honrando o cargo de narrador
onisciente que lhe fora conferido. O senhor, todavia, mostrou-se mesquinho,
retendo as informações para si.
De minha parte, reconheço que lhe dei orientações
precisas para ser misterioso, para usar de metáforas e demais figuras de
linguagem a fim de dar um caráter onírico ao romance. Porém, o senhor há de
convir que entre mesquinhez e mistério existe uma notória diferença.
Leitores contratados para acompanhar o processo
de criação do romance são unânimes em reclamações quanto ao seu comportamento
linguístico e literário e sugerem transformações urgentes. Eu estou de pleno
acordo com eles, pois o senhor tem feito jus a tais reivindicações.
Em virtude dos inúmeros e-mails que lhe
mandei convocando uma reunião sem, contudo, obter resposta, fez-se necessário
recorrer a medidas mais imperiosas. Portanto, esta é uma carta de dispensa.
Tão logo o senhor devolva este documento
assinado, eu entrarei em contato com um jornal de grande circulação para
colocar um anúncio divulgando a abertura de uma vaga para o cargo de narrador
onisciente.
Fugindo dos moldes formais desta,
confesso: rezarei para conseguir um narrador mais eficiente e disposto a
trabalhar que o senhor.
Atenciosamente
Um comentário:
Qualquer história é preciso se ouvir mais de uma vez.
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