sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Meia-luz

 

“O que você acha?” – imprecisa pergunta comungada pela saliva de tantos. Minha resposta é nevoenta: depende. O que se perdeu? Está perdido de fato? Se tu me impõe o opaco, como exiges que eu seja a transparência? Não sou contra nem a favor de teus pensares inespecíficos.
Não estou subestimando, aquém de mim, teus achares. Devem ser valiosos. Devem, mas não garanto que venhas ressarcir teus credores. Porém, eu só acho o que perdi, o que não sei onde pus, se no espaço ou no tempo.
Agora, quando inquirida a minha opinião, o interlocutor transpõe a neblina, revelando, despudorado, suas intenções.
Minhas palavras, portanto, não precisam ser achadas. Organizadas? Certamente. Alinhadas numa frase com o comportamento de uma dama em determinado contexto, mas que seduza, sob a meia-luz de um caprichoso pretexto, o ouvinte.
Dispenso qualquer “eu acho” que não saiba determinar os particulares de uma conversa. Contudo, se quiser partilhar pareceres, seja específico. “Qual a sua opinião?” – eis a pergunta que deves tomar em tua saliva nas preliminares do diálogo. De névoa já me basta este ar impudico de charutos e do blues ao piano.

Um comentário:

Poeta da Colina disse...

Achar é a mãe de todos os erros.