domingo, 14 de julho de 2019

Asas de chumbo

Desenho by: Sofia Cesar
Minhas asas pesam. Minhas asas me pesam. Pesam, sobretudo, porque não sei voar com elas. Asas inúteis! De que me servem? Eu quero destroçá-las! Quero esquecer que tenho asas e não posso voar. Eu as pinto, para que fiquem lindas. Lindas e inúteis. Beleza nunca aqueceu asa para o voo.

Minhas asas... pesam. São um fardo que carrego, sem poder usá-las para o que foram feitas. Se a natureza delas é serem asas, o que as impede de voar? A elas, nada. A mim, o medo de ser voo.

Minhas asas me aborrecem. Aborrecem, porque preciso cuidar para que permaneçam lindas, mesmo sem usufruir delas. De que me adianta ter asas e não ser livre? De que me serve ter asas e viver dentro de um círculo de giz riscado no chão?

Minhas asas me aborrecem. Aborrecem mais ainda, porque renascem sempre que as desfacelo. Aborreço-me sobremaneira, porque não consigo exterminá-las em definitivo. Aborrece-me ao infinito não crer que posso voar com elas.

Minhas asas são insustentáveis. São asas de chumbo as minhas. Nelas, concentro todo o meu medo de ser luz. 

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