Desde
que iniciei o curso de Introdução à Métrica Latina, um mês atrás, tenho pensado
bastante sobre o ofício de escritor. Na análise de poemas alheios, percebi que
eu não tenho ritmo. Melhor dizendo: meu ritmo é uma disritmia. Aqui e acolá há
uma quebra na composição e, como já disse o meu professor de Métrica, “um pé
quebrado mata não só o verso, mas também o poeta”. Todas estas (re)leituras de
um banquinho claudicante têm me trazido o samba de uma nota só: se eu não tenho
ritmo, como posso ter escrito tantas coisas (e até publicado!) ao longo destes
dezoito anos, desde que compus meu primeiro texto ficcional?
Hoje,
em pleno carnaval, eu, me deliciando com o romance de um outro professor meu,
percebi que, para cada tipo de cena, ele usa uma linguagem específica. Para as
cenas de amor e sexo, uma linguagem carinhosa, repleta de eufemismos, metáforas
e até diminutivos, os quais dão ao texto um tom mais terno e doce. Nas cenas de
música, uma linguagem bem mais enlevada, exprimindo todo o êxtase que a música
faz ressoar em si e no protagonista do romance. Já nas cenas de vingança, a
linguagem é mais bruta, mais crua e, em alguns momentos, até grotesca. E toda
esta multiplicidade de acordes e tons me fez perceber a monotonia dos meus
textos, que trazem um único tom, uma única linguagem, numa linearidade sem fim.
Esta
não é a primeira crise minha como escritora. Minha carreira, se assim posso
chamá-la, está entre a 5ª sinfonia de Beethoven e a Tocata e Fuga, de Bach. Contudo,
este ano estou me atendo mais aos pés, que antes não via. Ou, antes, não ouvia.
Eu até me detinha na tecitura do texto, mas nunca havia reparado no ritmo – ou na
ausência dele. Esta ampliação do ouvido do olhar veio a partir do curso de
Métrica, que, embora seja voltado para a poesia, tem me mostrado na prosa,
especialmente na minha, a musicalidade que meus olhos eram incapazes de
reproduzir – por pura ignorância.
Certamente, depois de tantos acordes, eu acorde. Quiçá seja uma escritora melhor. Sem dúvida não serei, porém, a mesma.
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