quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sentidos Despidos


Uma empatia grande tomou-nos.
Sentimo-nos à vontade,
Confortáveis um com o outro.
Suas mãos, desenvoltas,
Desenharam minhas reentrâncias.
Seus beijos, múltiplos e envolventes,
Sua respiração quente
Rente ao meu ouvido,
Aguçaram meus sentidos,
Arrepiando-me.
Um abraço aconchegante,
Um dengo gostoso,
Um prazer despido
Sem precisar despir.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Onírico


O desejo de ser tocado
Com a suavidade do sonho
A leveza da brisa
O fulgor da realidade.

Mãos, olhares, sorrisos, suspiros
Tudo toca.
O mundo se toca.
E o mundo somos eu e você.

Não no mundo.
Mas aqui dentro de nós.
Neste espaço só existe espaço para nós
E tudo mais que trazemos conosco.

Desejo, paixão, euforia, júbilo
Tudo vem impregnado na pele e na alma.
Eles falam por e muito melhor que nós,
Com mais nitidez e veracidade.



créditos da imagem: Ramon  de Assis

sábado, 27 de agosto de 2011

Cristal de Vidro

         Sim e não. Sim ou não. Não existe espaço para um talvez. Talvez é a resposta automática de quem não sabe o que quer. Quando alguém faz-nos uma pergunta, a resposta já vem, seja do coração ou do cérebro. Porém, não raro, hesitamos em aceitar aquela resposta e pronunciamos o talvez. 
         O homem (a humanidade) é bicho complicado, condicionado, quase sempre, à opinião alheia. A emoção e o corpo dizem sim, mas a razão – no momento mais crucial – lembra-se da opinião – que talvez – sua mãe, seu vizinho, sua tia-avó, seu papagaio venham a ter e recusa-se a ir. E quem comanda o corpo é o cérebro, portanto, se ele disser: “Não, eu não vou!”, nem o seu mindinho do pé sai do lugar. Mas o cérebro, apesar de agir como um deus maior do nosso universo particular, não é onisciente, isto é, ele não sabe – sempre – o que é melhor para nós. Sendo bem sincera, às vezes ele é muito medroso: “Não, eu não quero macular a minha reputação”. Grande reputação! Se você se acostumou a dizer não quando na verdade queria dizer sim só para não matar sua tia-avó (já com cem anos e cuja voz já está sumindo e a audição nem se fala!) de desgosto, então sua reputação é mais falsa do que um cristal de vidro.
         O ser humano é falso, uns mais, outros menos, mas todos são. E pior: são falsos consigo mesmos, visto que o outro – na hora pelo menos – não tem como comprovar a falta de veracidade de suas afirmações.
         Sim e não. Não podemos viver só de sim, senão somos bestas, passivos, subservientes demais. Também não podemos usar só o não, caso contrário seremos os chatos, antipáticos, caretas. Saibamos, então, equilibrar os dois e quando utilizar cada um deles. Procuremos (eu estou mais que inclusa nisso) sermos sinceros conosco antes de sermos com terceiros. Sempre vai ter quem fale mal de nós, mesmo que seus argumentos sejam uma máscara de papel machê que usa para acobertar sua inveja. Saibamos, outrossim, reconhecer quando a razão estiver com a razão.
         Porquanto, de quê adianta agradar aos outros se não abastecemos regularmente nossa reserva interna de amor-próprio? É fato irrefutável que nunca seremos felizes se apenas fizermos o que é aprazível para as pessoas que nos são caras (e dentre estas não está quem deveria ser a primeira da fila: nós). Afinal, a felicidade consiste em amar a nós mesmos, e, quem ama, procura o bem-estar do objeto de sua afeição. Com isto não estou querendo dizer para colocar-nos num pedestal, ou sermos narcisistas. Simplesmente quero dizer que o elogio, a aceitação e a felicidade precisam nascer de dentro para então irradiar para fora, só assim não ficaremos condicionados aos “achismos” de outrem.

domingo, 21 de agosto de 2011

Parto


         Literatura é entrega, doação. É abrir-se para receber. É fascínio, amor.  Quando amamos o ofício, a abertura acontece e as ideias vêm.
         Ninguém domina as palavras. Eu tampouco. É ilusão querer que venham as palavras certas e frases impecáveis. Não vem. Logo quando sai de nossa alma, não. São como um feto que acabou de sair do ventre da mãe para ganhar o mundo: vêm sujas de sangue e sebo. Precisamos abrir-nos e aceitar as ideias como vêm. Assim como a mãe ama e aceita aquela criaturinha suja e pura no primeiro instante em que a vê, e mesmo antes disso. Mas com os textos temos a oportunidade e o poder de edição. Precisa só ter jeito. Ei-lo:
         Não importa que as palavras venham maltrapilhas, sujas, feias, escuras; eu as aceito: “Oi, tudo bem? Sente-se! Fico feliz que tenha vindo!” Então conversamos, trocamos confidências, e os sentimentos são verbalizados por elas. Adentramos o espaço uma da outra sutilmente, permitimo-nos este acesso. Durante este processo, nós nos aceitamos e compreendemos. Ao final, mais leves e abertas, permitimo-nos ser moldadas. Enquanto moldo (edito) as palavras, moldo a mim mesma, ou melhor, elas me moldam. Então frutificamos.
         Posso dizer que cada texto é um caso de amor. Primeiro nós nos esbarramos, depois trocamos impressões, então ajustamo-nos, entramos num consenso e encaixamos. Amamo-nos por fim, e damos à luz o texto, fruto maior da paixão pelas letras.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sinuosidade


Sensível. Eu sinto, percebo-te.
Flexível. Abro-me. Permito-me.
Compreensível. Aceito-o.

Maleável. Estou aberta a novas ideias.
Dobrável. Admito-as e sou capaz de adotar.
Amigável. Desarmo-me quanto ao outro.

Sinuoso.  Reconheço a não-retidão da vida.
Diverso. Assumo que há mais de uma ideia correta.
Oposto. O diferente não é sempre ruim.
Certo. A certeza tem muitas facetas.

Opção. Escolho entre novos e velhos conceitos.
Dualidade. As partes formam o todo.
Emoção e Razão. A alma plena.
Serenidade. Ideias que se aplicam a cada situação.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Um Velho Apaixonado

Esta é uma pequena homenagem minha a um de meus ídolos e um dos maiores poetas brasileiros já nascidos: Carlos Drummond de Andrade. Hoje (17/08/11) faz vinte e quatro anos que ele faleceu e eu não podia deixar essa data passar em branco. Espero que gostem. Kissus =)



       "O amor bate na porta." Quem será? Corro à sala de estar e, ao abrir a porta, eu me deparo com ele: Carlos Drummond de Andrade. Peço que entre e se acomode. Há quanto tempo não o via!
       Levo-o à cozinha modesta de minha casa. Sirvo-lhe um café preto e para mim um refresco de laranja.

domingo, 14 de agosto de 2011

Colibri ou Flor


O colibri ou a flor?
Quem sou?
Agir ou esperar?
Beijar ou deixar-se beijar?

Agora sou um
Doravante posso ser outro.
O beijo pode ser desejado por ora
Depois posso querer roubá-lo.

O colibri ou a flor?
Depende do olhar
Depende do orvalho
Ou quiçá da sede.

Hoje tenho sobrando
Amanhã posso carecer.
Hoje estou forte
Amanhã posso me render.

Colibri ou flor?
Sou os dois.
A junção de ambos.
A diversidade no agir.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Traquinagem


Eu quero brincar com você.
Cada beijo é uma arte, cada toque uma travessura.
Loucura? Não, paixão.
Deixe-me ficar com a boca aberta colada na sua.
Talvez eu o beije, talvez não,
Quero apenas que sinta minha respiração quente
E sentir, igualmente, sua pele esquentar.
Se sou traquina? Sim, eu sou.
Gosto de provocar. É um brincar gostoso.
O que acontece se eu beijar a ponta da sua orelha?
E se eu apertar a sua nuca?
Violência? Nada. É desejo.
Dê-me sua mão. Posso beijá-la?
É tão bom! É doce, e levemente picante.
Bobo? Talvez. Mas eu curto essas bobagens.
Sexo é brincadeira, traquinagem.
O desejo vem numa simples aproximação.
Carinhos ousados? Nadinha.
Excitável é o simples disfarçado de ingenuidade.
E só é gostoso assim: sem obrigação de ir até o ponto final.
Quero brincar com as vírgulas, mergulhar nas reticências.
O sexo está em cada gesto.
A brincadeira é intensa desde um simples toque na ponta do seu mindinho.
Que me diz? Vamos brincar? 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Meditação à Tardinha


         Fiz errado no passado? Não importa, já fiz. O que foi feito não pode ser desfeito, tampouco refeito. O que será, pode. O presente determina o futuro. O futuro pode ser igual ao passado ou não. Quem decide é você. Você comanda a máquina do seu destino.
         O passado deve ser esquecido? Jamais. Ele lhe colocou onde está agora. É um registro. Mais: é sua consciência, que lhe faz lembrar o que não deve ser repetido, se não quiser obter os mesmos resultados. Deixe o passado onde está. Guarde-o numa gaveta. Mas não o apague. Ele lhe trouxe até aqui; formou sua personalidade. Seja grato por todos os “nãos” e “quases” que enfrentou. Eles o fizeram compreender o que não estava dando certo, abriram seus olhos para a necessidade de mudança. Agora, em agradecimento, liberte-o, permita a ambos experimentar o doce prazer de seguir adiante.
         Observe o presente. Lembre-se do significado atribuído ao termo. Aceite-o como tal. Não existe máquina que nos faça voltar ao passado, mas existe uma capaz de mudar o futuro: o presente. Agora que se libertou do passado, aceite o presente, acolha-o, e agradeça esta oportunidade de mudar o que ainda não encontrou um encaixe, de aparar as arestas.
         O futuro? Não tenho nada a revelar. Guarde sua ansiedade. A propósito, se lutar no presente, não se preocupará com o futuro, visto que estará ciente de que plantou as sementes pelo caminho. Assim sendo, só resta esperar que frutifiquem. 

sábado, 6 de agosto de 2011

Árvore-pássaro

Emergindo da Escuridão - tela minha (óleo s/ tela)


         Sou uma árvore. Meu tronco é largo e minhas raízes, fortes, estão bem fincadas na terra. Minha copa é frondosa, galhos de diferentes espessuras sustentam-na. Eu tenho estabilidade como poucos irmãos meus da flora. Até acho belo o balanço das hastes infantes ao sabor da brisa, mas sempre me mantive firme. Eu sou uma árvore imponente, um poderoso carvalho, não posso me curvar diante de qualquer brisa.

         Eu sou o vento. Sou livre e vou onde eu quero. Não tenho obrigação de ser constante, eu sigo meu espírito. Minhas velocidade e intensidade dependem do quão feliz eu esteja. Quanto mais rápido, mais feliz estou. Adoro cantar para as hastes pequeninas dançarem. Porém, tem uma árvore que admiro muito. Ela é grande e forte, e são poucos os seus galhos que dançam ao ouvirem minha música. Às vezes tenho vontade de ser firme e estável como ela.

         Um dia, o vento foi conversar com a árvore. Depois de alguma resistência, esta permitiu que sua copa bailasse. Mas os galhos grossos eram rígidos e apenas os mais finos conseguiram dançar. Todavia, a árvore gostou da sensação de ter suas folhas assanhadas pelo vento.
        Com o tempo, ambos se tornaram amigos e as visitas do vento se tornaram uma constante. A árvore foi se soltando mais, deixando-se envolver pelo vento. Apaixonou-se. Mas o vento não podia vir pra terra, ele era livre demais para fincar raízes no solo.
         Foi então que a árvore decidiu virar pássaro, assim poderia acompanhar o vento e gozar de uma mesma liberdade.

         Eu, a árvore, estou abrindo mão de meus padrões rígidos e inflexíveis. Minha copa está começando a ganhar asas. Devo confessar, contudo, que minhas raízes ainda estão bem presas ao solo, porém o processo de libertação já teve início.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Paradoxal

O amor é minha arma,
Meu escudo.
O amor é minha vida,
Minha agonia.

O amor é a falta,
O exagero.
O amor é interno,
Externo.

O amor é o paradoxo,
A unicidade.
O amor é a amplidão.

O amor é desregrado,
Correto.
O amor é a junção.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Questionamento Interno

Antes quero abrir um parêntese para uma observação: este é um texto intimista, isto é, sobre mim. Apesar de ser filosófico, ele não é genérico, isto é, pode não servir para todos. O texto fala sobre o medo de ser amado, mas as respostas dadas às perguntas, são inteiramente pessoais. Isso quer dizer que, caso você também nutra este medo, o seu pode não ter a mesma origem que o meu. Entenderam? Espero que gostem! Kissus =)


         Medo de ser amado. O que é o medo, afinal? É algo que nos paralisa e nos finca no chão, proibindo-nos de dar um passo sequer, seja para frente ou para trás. Criamos raízes no ponto em que paramos. Lembramos do passado, sentimos as emoções ruins que nos prenderam ao solo. Enquanto isso nós olhamos para o futuro com o pesar de quem não pode ir brincar no horizonte com as borboletas, quando estamos minimamente bem para enxergá-las, mesmo que difusas e em preto e branco.
         Já sabemos o que é o medo. Então por que o medo de ser amado? De onde ele provém?  
        Poderia alegar que foram os fracassos dos relacionamentos de outrora. Mas, caso não os tenha tido, que outro pretexto poderia utilizar? Por que somos acometidos pelo medo? O medo vem quando nos vemos diante de algum perigo real ou imaginário. Ou ainda pela possibilidade – mesmo que remota – de sofrer novamente um dano de outrora. O que passaste no passado que hoje te faz sentir este medo de ser amado? É realmente medo de ser amado? Ou seria medo de ser usado? O que fizeram contigo? O que fizeram com tua visão do amor? Melhor dizendo: o que fizeram com tua visão de exteriorização de amor e desejo? O que fizeram com tuas utopias? Transformaram-na em instinto, o que os literatos chamam de zoomorfismo? Eles foram tão animalescos assim contigo? Por isto tem medo de que estes “animais” se aproximem de você novamente?”
         Existe um único princípio para a natureza: os animais só atacam quando tem fome ou quando se sentem ameaçados. Percebesse agora? Eles não queriam machucá-lo, apenas saciar sua fome. Não estou aqui para defendê-los, de forma alguma. Eles não agiram corretamente. Mas quem disse que um animal guiado pelo instinto age da maneira certa? Os irracionais sim, pois eles só buscam sua própria sobrevivência. Os ditos racionais, entretanto, não pensam coisa alguma, e procuram prazeres da mesma maneira que um selvagem busca alimento. Não sabem eles, que o prazer é uma invenção humana e, portanto passível de muitos erros no projeto. E, quando o raciocínio é deixado de lado e o instinto assume, as coisas desmoronam de vez, visto que o animal dentro de nós não conhece nada de cálculos ou é capaz de ler qualquer manual de instruções.
         Então chegamos ao ponto que talvez esclareça toda esta questão e dissipe este seu medo. Seu medo não seria o de ser amada por alguém que fosse semelhante aos “animais” do seu passado? Pense um pouco: aqueles a quem se afeiçoa não poderiam ser “animais” também? É uma faca de dois gumes. O seu juízo também é passível de enganos. Por que não permite uma aproximação? Mas não descuide de suas garras, pode ser que precise usá-las.