A
mulher selvagem acordou e seu amanhecer ofuscou-o. Cegou seus olhos, que viram
o que você quis ver. O corpo existia. A demanda interna era minha. O que seus
olhos viram, porém, só eles viram. Eu vi; eu senti o que senti. Mas o que você viu
é seu, não meu.
O
desejo existiu. Entre o desejo e sua consumação, porém, há um abismo
inenarrável. O desejo pode existir apenas por existir. Apenas para ser sentido.
Sua concretude, no entanto, exige muitos outros fatores.
A
vazão da mulher selvagem não é tão simples, tão efêmera. A mulher selvagem é
profunda, intensa, e a superfície a afoga. Afoga, porque o mar de dentro não se
contenta em apenas molhar os pés.
O
desejo existe. O desejo de sentir as ondas lamber-me somente os pés, não. Eu quero
mais. Quero uma fusão profunda. Quero algo sublime e inesquecível. Não quero
este amor líquido, que escorre pelas carícias e deixa o coração encharcado
depois.
A
mulher selvagem existe. Ela está aqui e está muito bem acordada. Tão acordada,
que não vai aceitar o vazio que preenche.
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