Trote
na universidade. Veterana, não participei, mas tirava os olhos de Zé Lins[1],
às vezes, para observar. Sou curiosa, como convém a um cientista. Não sei qual era
a turma que estava aplicando o trote, de qual curso eram veteranos, mas achei
interessante as frases que eles exigiram que os “feras” repetissem, tais como: “Prometo
honrar o meu curso”, “Prometo honrar os professores”, “Prometo não reprovar
nenhuma cadeira”. Uma frase, porém, me fez largar Zé Lins completamente: “Prometo
não mudar para humanas!”. Confesso que fiquei em choque por alguns segundos,
sobretudo por eu ser de Letras, ou seja, humanas. O grupo, deduzo, deveria ser
de alguma ciência (dita) exata. Contudo, ficou em mim uma questão: que ciência não
é humana? Quer dizer, que ciência não é uma criação humana? Se, em linhas
gerais, a ciência é entendida como uma sistematização de conhecimentos acerca
de um objeto limitado, que outra força na natureza seria capaz de criá-la, além
do ser humano?
A
divisão do conhecimento em áreas e subáreas foi criada com fins metodológicos
para facilitar a compreensão dos conteúdos, pois é humanamente impossível para
um indivíduo dominar todas elas. Entretanto, esta divisão do conhecimento
tornou-se, com o tempo, sinônimo de status.
Dentro em pouco, não era mais o conhecimento que era dividido em áreas e
subáreas, mas os sujeitos. Logo, aqueles jovens isolados, que um belo dia
aplicaram um trote na universidade, estavam apenas reproduzindo um discurso
ouvido há muito, pois não é de hoje este menosprezo pelas chamadas ciências
humanas.
A
grande questão é: o que podemos fazer para reverter isso? Antes de tudo,
tomarmos consciência de que a ciência é feita por seres humanos e, por isso
mesmo, humana. Acima do professor, do físico, do jurista, do psicólogo, do
artista, deve estar o ser humano que cada um é. E é exatamente disto que
estamos nos esquecendo: da nossa humanidade. É preciso que a resgatemos o
quanto antes, sobretudo nas escolas e nas universidades.
Um comentário:
Uma reflexão refinada, Sarita. Em seu "post" você trata de uma temática que por todos é conhecida, mas, ainda não havia visto alguma abordagem com este seu perspectivismo. Embora saibamos que o conhecimento é caminho para o despertar da consciência, inclusive sobre a nossa humanidade, o conhecimento, tal qual o capital, continua sendo utilizado em significativa medida para segregar e não para reunir o que em algum ponto foi separado. Ah, as vaidades! Que labirinto as nossas vaidades criou!
Postar um comentário