Literatura é entrega, doação. É abrir-se para receber. É fascínio, amor. Quando amamos o ofício, a abertura acontece e as ideias vêm.
Ninguém domina as palavras. Eu tampouco. É ilusão querer que venham as palavras certas e frases impecáveis. Não vem. Logo quando sai de nossa alma, não. São como um feto que acabou de sair do ventre da mãe para ganhar o mundo: vêm sujas de sangue e sebo. Precisamos abrir-nos e aceitar as ideias como vêm. Assim como a mãe ama e aceita aquela criaturinha suja e pura no primeiro instante em que a vê, e mesmo antes disso. Mas com os textos temos a oportunidade e o poder de edição. Precisa só ter jeito. Ei-lo:
Não importa que as palavras venham maltrapilhas, sujas, feias, escuras; eu as aceito: “Oi, tudo bem? Sente-se! Fico feliz que tenha vindo!” Então conversamos, trocamos confidências, e os sentimentos são verbalizados por elas. Adentramos o espaço uma da outra sutilmente, permitimo-nos este acesso. Durante este processo, nós nos aceitamos e compreendemos. Ao final, mais leves e abertas, permitimo-nos ser moldadas. Enquanto moldo (edito) as palavras, moldo a mim mesma, ou melhor, elas me moldam. Então frutificamos.
Posso dizer que cada texto é um caso de amor. Primeiro nós nos esbarramos, depois trocamos impressões, então ajustamo-nos, entramos num consenso e encaixamos. Amamo-nos por fim, e damos à luz o texto, fruto maior da paixão pelas letras.
3 comentários:
Lindo isso.. A ideia de um texto ser fruto da paixão pelas palavras!
Concordo e aplaudo!
Abraço!
Que legal, Sara. Esse seu amor é tão lindo que acabou transbordando numa reflexão contundente. Bela arte. Beijão.
Obrigada, meninos!
Agradeço o carinho de vocês e por estarem sempre por aqui registrando a opinião de vocês.
Beijos!
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