Há
pouco mais de um mês, vinha eu no ônibus, recostada à janela e preocupadíssima
com o trabalho de Morfologia. Então, do banco de trás, uma senhora
interpelou-me:
-
Minha filha, você, que é médica...
“Médica?
– pensei. – Eu não sou médica.” Nesse momento, meneei a cabeça ligeiramente
para o lado e esse meu gesto foi interpretado como uma negativa pela senhora,
que reformulou sua fala:
-
Você, que é professora, me explica uma coisa. – Parei e ouvi. Já estava quase
na minha hora de descer do ônibus, mas, como fui reconhecida como professora,
senti-me com o dever moral e humano de acolher sua dúvida. E ela veio: – Eu vi
ali: “Crie seu caminho”. O que isso significa?
Parei,
surpreendida. “Crie seu caminho” – repeti para mim mesma. Um enunciado tão claro
para mim; tão óbvio. Para mim. Contudo, a senhora percebia-o obscuro. Então, como tornar claro para ela
também? O que é criar o próprio caminho?
Matutei isso por alguns segundos, antes de responder:
-
Significa criar a sua existência; fazer da sua vida o que a senhora gostaria
que ela fosse.
-
É isso? – surpreendeu-se.
-
Sim. Acho que é isso – confirmei, sem saber como aprofundar minha resposta.
A senhora agradeceu e eu, antes de descer do ônibus cheia de mafuá, olhei-a e
sorri. Embora ela tenha me chamado de professora, não sinto que respondi como
professora. Antes, respondi como alguém, que está ainda descobrindo como criar
seu próprio caminho. Respondi, portanto, do lugar de humana.
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