Um
dia de domingo. Os domingos, geralmente, são monotônicos; terrivelmente
lineares e previsíveis. Este, porém, foi atonal. Tantas coisas aconteceram, que
não sei precisar qual foi a melodia predominante. Aliás, para quê fugas? Já
fugi tanto! Então, até às paredes confesso: sinto o largo tornar-se
allegro. O noturno, que durou cinco
anos, promete reverter-se em tocata.
Um
dia de domingo. Na verdade – preciso te falar -, o movimento iniciou-se no
sábado. Como uma boa filha de Saturno e de Janaína, o meu dia mais bem
arranjado é o sábado. Entretanto, eu não previ que o domingo fugiria tanto
assim do estribilho. Uma fuga deliberada. Um desconcerto da prolepse.
Um
dia de domingo. O dia em que ganhei uma música. A música não é sua nem foi
inspirada por mim. No entanto, ela me foi dada por você e agora é minha. A sua versão
é, doravante, parte desta disritmia que sou eu. Às vezes, sou uma 5ª de
Beethoven. Outras, uma Blue Moon, na voz da Ella. E, muito raramente, uma
Meditation from Thais, na flauta de pan do Zamfir.
Um
dia de domingo. O mais dissonante de todos. E esta dissonância, ao que
harmoniza, caminha compassadamente para uma consonância. Consoante, dá rima.
Afinal, não dá para fugir dessa coisa de pele.
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