A
luz dos seus olhos desapareceu, foi calada na noite por denunciar o amor
indizível. Sua dança ressecou, pois toda umidade está represada. Seu sorriso fora
furtado uma esquina antes, já sem a alegria dos olhos. A boca retesou-se,
dormente, impedida de sorrir e de falar. Bem longe de São Petersburgo, a
síndrome de Raskólnikov acometeu-a: tudo nela a denuncia. Suas palavras não proferidas,
seus cílios escassos, mesmo sua respiração.
Não
lhe cabe mais ser cinza. Não saberia mais sê-lo, sendo agora essa explosão de
cores e sensações. Teimosa, porém, insiste. Murcha. Não quer assustá-lo com
suas explosões solares. Não podemos começar às tortas, menina. Não há graça e
leveza que sustente este represar.
Não
teime – mas ela teima. Ela se nega o direito de ser radiante e graciosa – para tristeza
de quem viera ver esta borboletinha no salão – para evitar que suas erupções vesuvianas
assustem um certo alguém. E cai, literalmente. Fecha-se em seus próprios
espinhos. Caia, menina. Caia quantas vezes puder. Depois levante-se. Não economize
sua alegria para um futuro incerto, criança. Dê-nos o presente de ser esta
borboletinha que você é.
Chega
de economizar felicidade para amanhã! Se ele não quer ir com você para
Maracangalha, vá só. Mas vá! Por você. Estarei lá para ver seus olhinhos
escalenos brilharem. Mesmo que seja em pensamento, eu poderei vê-los,
cheirá-los e me balançar nos seus cílios escassos.
Ele
ainda pode ser o homem selvagem que você almeja, mas, se não for, certamente o
arquétipo despertará em outro, o qual se encantará e amará a sua mulher
selvagem. E não só ela, minha criança espoleta, mas também a bruxa, a velha
sábia, e todas as outras facetas suas.
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