Ela tinha os globos oculares voltados para mim. Porém, seu olhar estava distante. Fitava algo dentro do nada. Mas o que lhe vinha à mente parecia estar muito perto. Tanto que tive a nítida sensação de ver seu corpo estremecer. Como se ela estivesse sendo tocada pelas memórias recentes.
Curiosa, perguntei o motivo. Ela falou, sorrindo. A ficha parecia não ter caído ainda. Só a mudança física lhe dava certeza do ocorrido. Contudo, a certeza parecia não ter chegado ao cérebro. Ou até tivesse chegado. Mas ela não estava lá para recebê-la.
Conhecia-a desde outrora. Muito antes dela. Pensávamos que ficaria inebriada quando tal coisa acontecesse. Culpa das ideias oniricamente distorcidas que ela alimentava sobre essas coisas. Pensava eu que ela ficaria num estado semelhante ao da embriaguez. Dispersa, entretanto, era impossível que não ficasse. Afinal, esse era seu estado natural.
“Se tudo tivesse acontecido um ano antes, talvez tivesse me perdido do centro” – confessou-me. Lembrava-me bem que sempre via essas coisas como se fosse uma orquídea no cume da montanha mais alta, e agora a mesma orquídea estava no pé da mesma. O (quase) inalcançável tornou-se mais próximo e natural. Eu me sentia satisfeita e orgulhosa por seus pensamentos terem amadurecido dessa forma.
Um sorriso brotou-lhe nos lábios e também nos olhos. Estava feliz. Muito feliz por ter acontecido. “Não foi cheio disso ou daquilo, todas aquelas frescuras...” – comentou. As “frescuras” até que são românticas, mas ela descobriu que não passavam de dispensáveis. Mas teve o que ela sempre quis: carinho. Muito carinho. “E isso é primordial. Era a única coisa que eu não abria mão” – completou. E sorriu mais uma vez para as lembranças.
4 comentários:
que texto bem construído, parabéns!
Muito bom, Sara! Seus textos estão cada vez melhores!
Abraços do @poemasavulsos.
Sorria mesmo, menina. A vida é feita disso!
Abraço!
Gostoso de ler
Postar um comentário