Deitada sobre seu tórax, sinto o ar inflar-te. Ouço tua voz de perto. As almas trocam experiências a menos de meio metro. Não sei bem o que elas cochicham em paralelo. Seus gritos são tão mudos que chegam a ser ensurdecedores. Você consegue ouvir? Tudo fala em derredor. Até o silêncio! Este é o que mais fala. Até o gás carbônico que nossos corpos rejeitam.
Eu não me sinto num resto de nuvem. Eu sou a nuvem. Uma nuvem pesada sobre um conjunto de ossos. A chuva virá. Uma chuva abstrata ao invés de líquida. Mas que umedece minha alma.
Surrealismo não vejo aqui. Mas vislumbro algo que não consigo racionalizar. Que dirá transformar em prosa poética. São sacos e mais sacos de sentimentos e sensações que passam por minha percepção e me causam algum torpor e euforia ao mesmo tempo. E passam tão rápido que não consigo identificá-los nem nomeá-los.
Também ando distraída. E essas coisas estranhas não vão embora. Elas ficam em mim. E, mesmo com tempo, não consigo encontrar uma definição para elas. Quando eu as experimento (na hora e nas lembranças), parece que tomo algum líquido por demais homogêneo, do qual não consigo distinguir nenhuma substância.
Isso é intrigante. Não é ruim. Só intrigante. Queria poder racionalizar para você ter uma vaga noção do que se passa em mim. Mas nem eu tenho essa ideia pouco nítida. São coisas que acontecem - e eu sei que acontecem - porém às vezes nem eu mesma vejo acontecer. Apenas fico com o registro inconsciente do sentimento que passou.
Não adianta. Estou perdendo meu tempo. Não vou conseguir traduzir em palavras o que nem o sentimento distingue. Mas você entendeu que sinto algo muito bom quando estou contigo, não é mesmo? Isso já valeu todo o esforço de tentar racionalizar o etéreo.
Quatro de Outubro de 2011
Um comentário:
A palavra jamais vai simular um sentimento, apenas carregar a história.
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