Flamboyants e Sopa de Estrelinhas
Não sei bem o que escrever. Como fazer uma poesia para quem não se sente poeta (e o é com maestria), bem diferente de mim? Flamboyants, ajudem-me. Tenho aqui lápis e papel. O que me podem dizer sobre este filósofo?
Os escritores deveriam ser sérios, assim como os psiquiatras. Mas talvez eu não seja escritora. Amo as letras simplesmente e gosto de brincar com elas, assim como o Rubem Alves com seus peões giratórios e sua sopa de estrelinhas.
É verdade: tenho um fascínio por escritores mineiros. Não sei bem o porquê. Talvez seja por seu linguajar simples ou a alma infante que carregam e espalham. O Rubem Alves tem olhos poéticos diante da vida e isso transborda em suas letras e escorre pelo papel, caindo bem no centro de nossos olhos.
Todavia, o que é a vida? O grande filósofo-poeta-psicanalista disse: “Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria.” Mas e esta alegria? Ela é oriunda de onde? Acredito piamente que nossa criança interior é a guardiã soberana de nossas reservas de contentamento. Que tal tirar fotos dos flamboyants numa manhã de sol, ou ainda brincar de peão ou tomar sopa de estrelinhas? Parece bobo um adulto fazendo essas coisas, mas existe coisa melhor que ignorar a rigidez da maturidade e rir de si ou consigo mesmo? Isso é ser criança e não precisa renegar seus cabelos brancos para manter sua chama viva.
As crianças são sábias e quem conserva sua alma infante, conserva também o encanto pela vida, o prazer de viver. Não existe nada que me deixe mais deslumbrada com a vida do que contemplar uma nimbus (aquelas nuvens fofinhas que mais parecem pedaços de algodão) ou ver o chão repleto de flores de alguma cerejeira, de algum ipê roxo ou mesmo de um jambeiro, ou quem sabe observar os galhos retorcidos de um flamboyant.
Certa feita, Rubem Alves lançou a proposta de que vivêssemos como se tivéssemos só mais um ano de vida. Embora algumas pessoas tenham achado mórbido, reconheçamos que muitas vezes precisamos de um prazo determinado para vivenciar algo em sua plenitude. Assim como só entregamos um trabalho mediante um prazo. “Quem acha que vai viver muito tempo fica deixando tudo para depois.”
Entretanto...
“As flores dos flamboyants, dentro de poucos dias, terão caído. Assim é a vida. É preciso viver enquanto a chama do amor está queimando [...] As palavras que devem ser ditas, devem ser ditas agora. Os atos que devem ser feitos, devem ser feitos agora.
Nove de Setembro de 2011
2 comentários:
Menina tão velha quanto eu, você me enche de orgulho, escrevendo com tanta perfeição sobre esse "poeta" que amo.
Abraço!
As flores caírão. Ótima lembrança.
Postar um comentário