sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Carta de Amor e Cura


         Você me perguntou o que eu queria de você depois de eu ter lhe feito a mesma pergunta. Na hora eu respondi qualquer coisa. Mas a resposta profunda ficou guardada. Creio que agora ela chegou. E é por isso que escrevo estas linhas.
         Não quero que seja o que eu sempre esperei dos outros que cruzaram meu caminho: um analgésico. Aquela outra metade que todos procuram, sabe? Não. Essa outra metade está dentro de mim. Sempre esteve, embora nunca a tenha usado. Somos seres duais e, para sermos inteiros, precisamos usar nossas metades. Você se sente inteiro? Eu o quero assim. Não desejo ser sua metade e nem que seja a minha.
         O amor são duas peças de um quebra-cabeça que encaixam uma na outra. Se você pegar uma delas e cortar ao meio, o encaixe ocorrerá? Não. É preciso que as duas estejam inteiras.
         Corações feridos não se entregam totalmente. Até que reconhecem o ferimento e o tratam. O problema é que alguns desses corações esperam que o outro os tratem. Mas cada pessoa tem que curar seu próprio coração.
         Os espinhos são muitos dentro de mim. Eles são as aspirações utópicas, os medos. São coisas minhas. Feridas cuja cura está sob minha responsabilidade. Mas você é muito importante nesse processo. Você vai enxugar minha testa suada de exaustão. Todavia, não entenda essa frase em seu sentido literal.
         Quero que seja a renovação ao final de cada rodada, a revitalização depois de muitas horas tentando tirar os espinhos. Não conseguirei tirá-los todos de uma só vez. Cada espinho retirado deixará um buraquinho e este será preenchido com amor, o meu e o seu. O meu para preenchê-lo de fato e o seu para protegê-lo de novos espinhos enquanto cicatriza.
         Não estou pedindo que me cure. Só que faça o curativo depois que eu retirar o espinho.  E que me abrace bem forte e afague meus cabelos quando o amor transbordar do meu coração regenerado.

Dezoito de Setembro de 2011

6 comentários:

Anderson Meireles disse...

E viva o amor de peças inteiras...
O resto... é resto.
Abraço!

poemasavulsos disse...

Lindo, Sara! A decepção amorosa retratada sob uma profundidade sem igual. Parabéns.

Abraços do @poemasavulsos.

Ani Braga disse...

A vida é feita de momentos...
E estar aqui está sendo um momento especial...
Voltarei sempre que puder...
Se quiser, dá uma passadinha no meu também...
Quem sabe não gosta e fica.... E com certeza retribuirei a gentileza.

http://cristalssp.blogspot.com


Beijos 
Ani

Poeta da Colina disse...

Tem coisas que precisam cicatrizar sozinhas. O curativo, só esconde.

Lucas Marreiros disse...

Lindo! Acredito em todas essas palavras como se eu as tivesse escrito. Me emocionei com a identificação. Isso é amor!

Sara Carvalho disse...

Obrigada pelo carinho, gente!
Fico feliz que tenham gostado.
Beijos!