sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Aflorada


         Quero o cheiro. O cheiro que não suguei, não gravei. Um cheiro que sei (inconscientemente) ser bom. Afinal, tenho saudade do que é bom.
         Os sentidos estavam aguçados. Todos. Ao mesmo tempo. Algumas sensações não chegaram inteiras. Quero puxá-las de novo, escancará-las. O que não está fixo, atar com um laço bem forte. Guardar na memória imperecível.
         Eu quero teu beijo. Quero a sede. Pois é ela que move todas as águas. Teu lábio puxando meu; massageando o desejo, a loucura. As línguas enroscando-se num frenesi fora de órbita. Ou era eu que estava em algum universo paralelo? Não importa a equação. O resultado já nos tomou.
         Quero sentir teu pulmão gritar. O ar que entra parece insuficiente. O que sai é demasiado. A respiração é quente. O vulcão me faz estremecer ao aproximar-se do meu ouvido. O vento frio dos altos píncaros cruza a fronteira entre o externo e o interno. O arrepio desnuda-me.
         Quero sentir teus dez braços enlaçando-me. Sentir nitidamente suas mãos percorrendo meus relevos, queimando ao cair em reentrâncias. Quero ouvir minha pele estremecer mudamente, sibilar.
         Quero o dengo. Aquela carência preenchida do teu abraço. O desencaixe perfeito de tuas mãos na minha. E o jeito que beija meu pescoço enquanto falo só para me desconcentrar. Onde parei mesmo? Não importa. Quero começar agora.

2 comentários:

Anderson Meireles disse...

Magnífico!
Me lembrei de uma frase de Adélia que diz: Não quero faca nem queijo, quero fome!
Abraço!

Runa disse...

Um texto sensual e bem elaborado. Quando os sentidos se aguçam o jeito é mesmo levar a equação até ao fim.

Bom fim-de-semana

Runa